Moschino for Riachuelo: os absurdos do retorno das colabs

Eu jurei de pés juntinhos que nunca mais falaria dessa empresa no meu blog e redes sociais, assim como também não piso mais em nenhuma loja, mas trago uma conversa importante. A minha decisão veio tanto do posicionamento do dono da empresa, Flavio Rocha, que notoriamente apoia o presidente abjeto da república, de ter declarado também ser contra a taxação de fortunas para não empobrecer ricos, agravado pelo caso da Guararapes Confecções, indústria de roupas do grupo Riachuelo, ter sido condenada a pagar pensão vitalícia a uma costureira por condições precárias de trabalho:

“O grupo Riachuelo foi condenado a pagar pensão vitalícia a uma de suas ex-funcionárias em mais uma ação que revela as precárias condições de trabalho impostas às costureiras que produzem para as grandes marcas da moda. A condenação descreve um ambiente de trabalho em que a exigência de metas de produção ocorria mediante abusos físicos e psicológicos.

Segundo seu relato, a costureira era pressionada a produzir cerca de mil peças de bainha por jornada. A meta, por hora, era colocar elástico em 500 calças ou costurar 300 bolsos. Na ação, a funcionária diz que muitas vezes evitava beber água para diminuir suas idas ao banheiro. Idas que, segundo ela, seriam controladas pelo encarregado mediante o uso de fichas.”

Matéria de 2016 da Repórter Brasil

Corta para 2021, depois de anos sem coleções especiais com marcas internacionais em fast fashion, a varejista lança uma colab – sim, 2021 e ressucitaram as colabs, as coleções especiais – com a marca italiana Moschino, que é um sinônimo de excentricidade e irreverência nas suas coleções, alguns dizem até ser sinônimo de deboche. Bom, acho que nesse caso deboche caiu como uma luva com o que presenciamos sobre o lançamento. Um escárnio com quem comprou, eu diria.

Eu não vi as peças de roupas, não prestei mesmo atenção nelas. Mas quero conversar com vocês sobre as mensagens por trás de lançamentos assim, que movimentam MUITA grana (lembro de um que a galera chegou de jatinho temático aqui no Rio pra um preview de coleção). A linguista Jana Viscardi fez uma crítica contundente sobre os influenciadores que toparam fazer campanha para divulgar essa colab com a Riachuelo, mesmo aqueles que dizem escolher bem com quem fecham parcerias. Ela fez um texto excelente sobre as responsabilidades no mercado de influência, com influenciadoras com milhões de seguidoras que toparam publi pra essa coleção.

Nos atentemos porque as eleições de 2022 estão aí: analisem criticamente para quem vocês acompanham nas redes sociais e estão reverberando campanhas de empresas como essa, apoiadoras desse governo.

Recomendo demais também o vídeo que Jana fez questionando os limites e as responsabilidades do mercado de influência. É um debate importante:

Falta de respeito com o consumidor

Pelo que eu li as peças são o puro suco do poliéster, com preços elevados, não posso nem quero avaliar nada. Mas o que considero grave foi a quantidade de comentários no perfil deles no instagram de pessoas que compraram as peças no pré lançamento e os pedidos foram cancelados sem nenhuma explicação. Foram muitos, muitos, tanto que algumas leitoras me avisaram. Vejam, essas pessoas compraram produtos que existiam na pré-venda e agora não vão receber porque as compras foram canceladas – não tem nada a ver com estoque. Talvez seja o caso de PROCON, né não?

Bom, resolvi falar porque eu sei que fiquei conhecida pelas minhas análises de provadores de coleções especiais das fast fashion, inclusive nessa dita cuja. E, ao contrário desses influenciadores que já nadam em dinheiro, parece que quem mais precisa ter seu nome atrelado à ética, quem sabe a gravidade de se associar a empresas que não respeitam seus trabalhadores, nem seus consumidores, é quem se posiciona criticamente.

Achei essencial falarmos disso aqui, porque eu sei que algumas coisas podem ser tentadoras, tipo comprar uma roupinha da marca trend italiana. Mas tivemos nossa lição em 2018, moda é política, sim. Vocês, que me acompanham há tantos anos falando dessas coleções, sabem também perceber que nem tudo vale a pena em nome de desejos de consumo. Tem tanta marca desenvolvendo trabalhos legais por aí, sabe?

Como foi deixar de fazer as unhas

EU JÁ FUI NO SALÃO DEPOIS DE TER SIDO ATROPELADA> SIM, você leu isso; muuuuuuitos anos atrás um carro bateu em outro carro, que me pegou de raspão na calçada. Levantei e fui pegar meu ônibus porque eu tinha marcado de fazer as unhas e não poderia desmarcar (?!??!!?!?!?!?).

Só para começar esse papo mostrando o quão fudidas ficamos na socialização feminina que molda nossos “desejos”.

Em 2019 eu dei um pulinho na manicure para fazer mão e pé, minha rotina era de uma a duas vezes por mês bater ponto no salão para dar uma guaribada nas cutículas e formato das unhas. Só que saí mega nervosa pois a moça cortou as unhas dos meus pés todas redondinhas, formato que as deixou cotoquinhos! Não sei por que ela fez isso mas ela também ficou chateada quando me viu quase chorando, me senti péssima.

Eu já tive carne esponjosa (pesquisa aí se quiser e se prepara para o show de horrores, rs) no dedão por causa de uma ida a pedicure para dar um jeito nas peles dos meus pés. O resultado da moça arrancando toda a pele por baixo da unha foi o dedão infeccionar, ter que ir ao médico e tomar antibiótico, tenho trauma. Fiquei apavorada de rolar isso de novo quando vi as unhas dos pés completamente lisas de cutícula e cotocos.

Desde esse dia eu nunca mais pisei em um salão para fazer manicure e pedicure. Aproveitei para relembrar todas as vezes que fui e deu merda, que saí ferida, sem um pedaço, com os dedos ardendo, rezando pra não infeccionar, ou sentir medinho na hora que metiam o alicate. Pensei também que ficava revoltada pela exploração de muitos salões com as funcionárias, que várias tinham que correr pra cumprir uma agenda apertada, comprar seu próprio material e muitas nem conseguiam parar para almoçar. Cheguei à conclusão que eu não sentia prazer nem vontade de continuar – apesar de adorar ver minhas unhas feitinhas, coloridas.

Lembrei de todas as vezes que minha mãe disse que meus pés eram feiosos, o que me fez usar muito sapato fechado. Eu ficava com os cantos das unhas doloridos de tanta pele, e quando comecei a ir a pedicure foi um alívio. Também me recordei de achar minhas mãos magrelas estranhas, com os ossinhos aparentes, assim como as veias, fora o formato das unhas, meio curtinhas, então eu tentava ao máximo deixá-las maiores, apesar de nunca ter sentido desejo de fazer nada artificial de alongamento nelas.

Seguia um padrão do que se espera de uma mulher, eu não queria fugir muito disso. Depois comecei a associar unhas feitas a me sentir mais bonita e arrumada.

Eu trabalhava fora e sacrificava uma vez na semana a minha hora de almoço para deixar as unhas bonitinhas no salão, do dinheiro que gastei comprando vidros e mais vidros que eu joquei no lixo por estarem vencidos, anos depois. Fora a angústia em dias anteriores a eventos, de não encontrar horário, de me sentir envergonhada com o esmalte descascando e ter que apelar pra gambiarra.

Não, nunca consegui ser habilidosa para fazer em casa, sim, eu tentava e só perdia tempo. Assim como também perdia horas da vida no salão numa frequência maior do que gostaria.

Como comecei e hoje, como me sinto

Quando engravidei, em 2019, não fiz mais as unhas, abandonei aquele cheiro irritante e tóxico de esmalte e acetona que eu detestava. E, vejam vocês, eu ADOREI o formato das unhas mais curtinho, rente mesmo! Só as lixo e pronto!

Achei minhas mãos e meus pés mais bonitos naturais, e as unhas estão bem mais saudáveis, sem manchinhas, não quebram com tanta facilidade. Cuido dos pés com hidratante Skin Food, da Weleda, mas como não tenho usado sapato fechado e fiquei em isolamento por mais de um ano com a pandemia, eles estão lisinhos! As cutículas também estão ok, mas como eu cutuco muito os cantinhos (de nervoso) às vezes ficam mais grossinhas. E beleza, não ligo mais, só tento não cutucar tanto.

Fora o ganho de tempo e dinheiro, além do psicológico não ser afetado. Às vezes sinto saudade de ter unhas vermelhas ou pretas, mas sinceramente? Não penso em pintar tão cedo, nem para festas, eventos, nada. Não devo essa satisfação a ninguém, não sou pior profissional por conta disso, muito menos “desleixada”.

Fora aquela coisa IRRITANTE de homem opinando que prefere mulher de unhas clarinhas, bla bla, MELHOREM macholândia que reproduz falas misóginas.

E para vocês? Alguém também deixou de pintar as unhas ou adoraria, mas tem medo dos julgamentos?

O algodão que não é sustentável

Quando comecei anos atrás a falar do poliéster e priorizar fibras naturais, bati muito na tecla do algodão. Pesquisando, li que existiam diferenças entre os tipos de algodão disponíveis no mercado das fibras têxteis, o que impactava na qualidade da roupa que vestimos. Algumas plantas com fibra mais curta serviam para composição de roupas com um custo menor e, consequentemente, baixa qualidade, enquanto as com fibra longa eram mais macias, duráveis e, logicamente, mais caras.

Mas a pesquisa não parou aí: logo vieram as peças com etiqueta de algodão orgânico, e eu fui entender mais sobre. Conheci o algodão orgânico paraibano, que já nasce colorido, dispensando o tingimento têxtil, consequentemente químicas poluentes de rios, com premiações que ajudam diversos agricultoras de assentamentos familiares no sertão. Nos assentamentos assessorados, os agricultores seguem critérios como: o cuidado com a saúde do produtor e do solo; a proteção da biodiversidade; a valorização das sementes tradicionais; e o respeito aos limites da natureza e as relações humanas. 

Mas como ser brasileira é não ter um minuto de paz nesse país, a bancada ruralista está tentando aprovar o PL 6299/02, o PL do Veneno e, como profissional de moda, precisava trazer esse tema para vocês.

Recebi um email do Rio Ethical Fashion que explica mais a campanha contra a PL do Veneno:

“O algodão é uma das matérias primas mais importantes da moda e o Brasil é o segundo maior exportador de algodão do mundo. Por isso, começamos essa semana falando mais uma vez sobre a importância da nossa indústria lutar por uma agricultura livre de agrotóxicos.

Por ser uma fibra natural, muitas pessoas acreditam que algodão é sinônimo de sustentabilidade, mas isso não é verdade. O algodão é a quarta cultura que mais consome agrotóxicos no Brasil. Destacamos aqui o glifosato, um dos agrotóxicos utilizados nessa cultura, cuja exposição pode causar sérios danos à saúde humana, como câncer e aborto espontâneo.

Por enquanto, os compromissos assumidos pela indústria da moda são de endossar a certificação BCI (Better Cotton Iniciative). Essa certificação preza por melhores práticas, como ausência de trabalho análogo à escravidão e trabalho infantil, e 75% do algodão brasileiro é certificado. Mas infelizmente, isso não impede o uso de agrotóxicos e de sementes transgênicas.”

Segundo campanha liderada pela Modefica e Fashion Revolution Brasil, “A moda é uma das indústrias mais poluentes do mundo. Segundo o WWF, 2.4% do total de terras férteis em escala global é usado para plantação de algodão e, ainda assim, essa pequena quantidade é responsável por 24% das vendas de inseticidas e 11% das vendas de pesticidas. Aqui no Brasil, ele é a principal fibra utilizada nas confecções e consome dez tipos de agrotóxicos, entre eles: glifosato (ligado a casos de câncer e aborto espontâneo), acefato (efeitos gastrintestinais, neurológicos, respiratórios e dérmicos) e Imidacloprido, considerado fatal para abelhas.”

O PL prevê a mudança do nome “agrotóxico” para versões mais brandas, como “defensivos agrícolas” e “produtos fitossanitários, redução do tempo de aprovação de novos agrotóxicos de 8 anos para 24 meses, além de passar de mão da aprovação na Anvisa, Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura, para apenas este último. Os apoiadores do PL também apoiam a mudança do responsável pela análise de risco, passando essa etapa para as mãos da empresa dona do agroquímico.

Assine aqui a petição para impedir a aprovação do PL!

Onde encontrar camisas de botão

Depois de dois anos sem entrar em uma loja fast fashion por conta da pandemia + gravidez, ontem, à trabalho e com minha máscara pff2, fui fazer looks de provador na C&A para uma publicidade que fechei com eles no meu instagram. Mas o post aqui do blog não é publi (infelizmente, as marcas poderiam voltar a apostar nos blogs, heim?), mas é porque eu realmente fiquei muito bem impressionada com as camisas dessa coleção que eu fui montar looks, a Basics, que é uma linha de peças essencias, com uma pegada mais contemporânea.

Primeiro, vamos contextualizar a dificuldade que é encontrar peças mais clássicas, como camisas de botão, sem serem muito formalzinhas (nada contra, mas acho que restringe mais o uso delas em outras situações que não trabalho), caras demais ou que não tenham logotipos, detalhes desnecessários. Ainda tem a situação de não serem de um tecido de fibra natural, como poliéster no lugar do algodão, o que aí complica mais.

Sempre me perguntei como um item considerado “atemporal e clássico” (muitas aspas aí, porque não acho que camisa seja algo fundamental no guarda roupa de todo mundo), não seja simples de encontrar.

A resposta é que peças de alfaiataria sem serem sob medida são mais difíceis mesmo, porque modelagem boa, bem executada, com um corte e caimento que funcionem em uma maior variedade de tipos físicos (o que já dificulta em produções em escala) é complicado de ter. Segundo, a qualidade do tecido, o que também influencia nos custos.

Por isso achei que seria uma dica boa pra dar pra vocês, por ser um tecido com ótimo toque, 100% algodão, considerando que a C&A está presente em muitas cidades e entrega em várias localidades, que o valor está bem ok (R$129,00) e é uma peça realmente versátil, que dá pra usar aberta como terceira peça, fechadinha como uma chemise (ela é mais compridinha), com short, saia, calça, pro trabalho, pro lazer. Como a modelagem é mais ampla (a costura dos ombros é até mais deslocada), achei ótima para mulheres com busto maior.

A grade vai do PP ao GG, infelizmente não veste tamanhos muito maiores, apesar de ter ficado bem folgadinha no corpo – essas que provei são tamanho P, e olha como ficaram soltinhas.

Eu estava com saudade de dar dicas assim, compartilhar achados. Que nostalgia desses tempos de blog!

Da rigidez à leveza

Minhas roupas refletiam a rigidez que eu tinha comigo. Eram em sua maioria peças de cores escuras, amplas e estruturadas, quase como armaduras que me protegiam de uma vida ressentida em que eu precisei endurecer. Com a profissão, veio a mensagem intrínseca da determinação, de quem fazia e acontecia por conta própria com muito trabalho e pouco lazer.

Evidentemente nada disso foi racionalizado na época, mas tem sido evidente à medida que eu sinto na prática a delícia de vestir uma saia colorida, que ganhou meu coração por permitir que eu me movimente com minha filha. Antes as roupas tinham o peso de servirem só para eventos, palestras e trabalhos com minha imagem – que deveria ser de uma profissional impactante. Agora eu confesso que só de olhar minhas roupas pretas eu sinto verdadeira aversão.

Esse look simples, porém leve e florido, de um passeio pelo quarteirão às 7h da manhã me revelou tanto sobre essa imagem que eu carregava de forma tão extenuante. Eu vivia cansada e me montar era mais uma parte daquela rotina que eu me enfiava.

Me sinto às vezes em uma nova gestação, mas dessa vez de mim mesma. O processo de não se reconhecer nas roupas de antes é legítimo e revelador. Tenho feito de cada dia o nascimento dessa mulher que experimenta a leveza consigo mesma através do olhar e da companhia amorosa da filha. 

Como desapeguei do blazer

Quem me acompanha há muitos anos sabe que eu era apaixonada por blazers. Quando decidi ter um estilo mais elegante, foi essa peça de roupa que me deixava arrumada até de chinelo, hahaha!

Mas é sério, eu tinha muitos para uma carioca (!) que trabalhava de casa (!!): pretos, amarelo, bronze, estampado, branco, cinza, que usava com jeans, com vestido, com maiô (juro), com short, com macacão…era meu curingão, minha cartada, minha bola de segurança. Muito pelo tom formal, pela alfaiataria que trazia uma estrutura que eu gostava à minha silhueta (eu era cismada com meus ombros pequenos), mas fato é que eu me tornei adepta dele para tudo. Só que o blazer virou minha muleta.

Constantemente eu vivia perdida nas escolhas do meu guarda roupa, e sacava o blazer para me ajudar. Não sabia o que vestir, ia de blazer com alguma coisa. Mesmo com calor, não importava, o blazer me deixava arrumada apesar de estar suando bicas.

E assim eu me viciei nessa fórmula do vestir, que tirou o potencial de muita coisa que eu já tinha.

Hoje eu sei que pelo fato de ser uma referência do masculino, me trazia a sensação de experimentar o poder e a força simbólicas que ele carregava. Só que eu sou mulher, temos estilos e gostos diversos, e eu posso passar a mesma mensagem com meus vestidos e camisetas. Vestir-se de si mesma não deveria ser um fator a desqualificar alguém.

Fora que não são itens fáceis de encontrar em tamanhos maiores, que vistam bem, de materiais de qualidade que tragam conforto térmico, além de serem mais caros.

Claro que muitas vão argumentar que é item obrigatório do código de vestir profissional de muitas empresas, que tem “gente sem noção que veste coisas horríveis” (alô misoginia!), que é o símbolo das advogadas, mas sinto informar que a desigualdade de gênero prevalece com ou sem ele. Com blazer podemos até ser mais respeitadas, mas, sendo mulheres, isso nos coloca SEMPRE em desvantagem, mesmo se usar uma peça de grife.

Não precisamos nos vestir como homens, precisamos é de políticas públicas femininas, equiparação salarial, fim do patriarcado e do capitalismo.

Continuo gostando de blazer? Sim, e mantenho meus preferidos. Mas não me sinto mais poderosa só se usá-los, pelo contrário: tenho me sentido assim com regata e saia colorida – além de compreender que eu moro em uma cidade quente e, definitivamente, é o tipo de peça que não combina com o clima.

a tal da camiseta branca clássica

a tal da camiseta branca. essa coisica inofensiva que reptilianos instituíram como peça atemporal e clássica, e eu sempre achei uma grande baboseira pq pessoas como eu, que nunca viram graça nela, já acreditaram mesmo assim que deveriam ter uma. mas, opa, uma também não dá, vai que manche – afinal, sempre me adjetivaram de “desastrada”, – então melhor ter duas. mas aí se levar três na promoção sai mais em conta.

e aí se mantém um arsenal de um item que passa a ser inútil na gaveta, amarelando mesmo sem a desastrada sequer vestir. uma vez uma cliente querida comentou que precisava abastecer seu armário dessa peça tão curinga. sugeri que víssemos antes quantas ela possuía: nada mais, nada menos que VINTE – e ainda com algumas esquecidas dentro da sacola.

ela representa uma alienação frente a um potencial criativo que mora dentro da gente, uma indicação camuflada de “ajuda” do que seria esse ideal feminino: discreto, básico, sem chamar tanta atenção, sem se diferenciar, sem oferecer nada além do que a obediência até nos padrões estéticos.
não arrisque, vai que os outros não gostem né? vai na camiseta branca então! menos se vc for gorda, porque aí branco é proibido, disseram as revistas (q ódio disso)!

fora o suplício para evitar que qualquer vestígio de encardido escancare a sua inaptidão doméstica, quiçá a sua própria noção de asseio. e essa bichinha é danada pra manchar, né não? ainda mais debaixo do braço. bora quarar, bora botar água sanitária, esfrega mais e deixa tudo branquinho de novo.

coitada da camiseta branca, eu adoro usar – vocês dirão e tudo bem, sem problemas, hahaha, não é pra você deixar de usar nada do que goste né. eu sei, gente, esse post pode até ser uma exagero, mas sei lá, viu. talvez eu esteja dormindo pouco, talvez eu esteja implicante. talvez.

(em tempo: essa foi a única camiseta branca que já gostei na vida. pela modelagem e pela qualidade, custou caro, não pagaria o que paguei nem a pau hoje em dia. 🤙🏻 e vc pode também ajudar quem usa e ama ❤️: onde vocês compram as suas camisetas básicas, de qq cor?)

eu sei que na Renner tem vira e mexe promoção de camisetas básicas de algodão pima (de boa qualidade), gosto também da básico.com (mas são mais caras) e gosto da Hering que também tem camisetas em algodão pima!

para os próximos posts vou falar sobre a falácia das peças atemporais e clássicas. aguarde!

As roupas que guardei para você

Essa semana comentei no instagram sobre peças que desapegamos e nos arrependemos. Vou confessar, eu já me arrependi sim, de ter vendido/doado algumas coisas. Sabe calor do momento? Aí olho as peças e penso, puxa, poderia ter dado outra chance…

Aí respondo em seguida (a mente da pessoa é assim haha): mas peraí, que chance? Ela teve todas as chances e eu não a escolhia! Ou, aliás, nem chance surgiu, como foi o caso de um vestido longo lindo que comprei pra ir a um casamento que nunca existiu. Ou a blusa que realmente era linda, mas nunca foi a minha opção ao escolher meus looks, por ser mais transparente e preguiça de usar algo por baixo, por ser muito romântica e por aí vai. Ora, se nunca foi uma escolha fácil, só a beleza dela não garante que vá ser usada, né.

Me desfiz da blusa da foto abaixo. Quando fiquei meio arrependida, a moça que ficou com ela mandou uma mensagem que ela ia ajudar muito em refazer seu estilo, que era uma peça importante por ter sido minha também. Fiquei feliz e esse lamento se esvaziou. Eu não usava, tinha dúvidas e alguém estava feliz e cheia de certezas com ela. Que bom, sabe?

Aí tem aquelas que estavam guardadas e eu nem lembrava. Algumas eu desenterrei e, olha, consegui usar sim. Outras eu experimentei e não serviam mais. Podem voltar a servir algum dia? Até podem, mas não quero contar com o amanhã. Quero o hoje.

Claro que isso não se aplica a todas: algumas podem ser transformadas com reformas, outras é só um ajuste aqui e ali, tem as que ficam porque pode ser alternativas boas em uma variação de manequim. Mas gente, a questão é não arrumar desculpas para tudo e depois não usar nem depois disso.

As artimanhas do apego que eu chamo: o lamento porque a moda voltou e você teve essa peça por tanto tempo, aí se desfez do nada. Ou vai que precise, ou vai que a sua filha queira quando ela tiver 15 anos, isso o que, daqui a 14 anos?

Décadas mantendo peças que nem sei se ela vai querer usar. Se vai ser o estilo dela, se vai ser do tamanho dela, se sobreviverão a algum descuido ou mofo. Ocupando espaço, atravancando.

Mas se for de qualidade, vale a pena. Ah, sim, concordo. Alguma joia também, ou algo precioso para você, de família. Mas a questão colocada aqui é quando é só mais uma desculpa para não se desfazer. Porque arrependimento deixa a gente se remoendo por dentro, é ruim se sentir assim. E porque roupa boa é caro mesmo, eu sei bem, minha realidade por muitos anos sempre foi de ter esse receio porque era tudo garimpado, não tinha acesso e poder aquisitivo a muita coisa, então eu sofro às vezes lembrando disso.

Não é fácil mesmo desapegar. É um processo.

Cada pessoa vai ter seu tempo, porque roupas estão muito atreladas a memórias, a situações de traumas e de status, ou até de necessidade de afirmação por fatores sociais. Até eu vir morar em um apto com quartos q mal cabem um armário, eu não fazia ideia da quantidade de roupa sem uso que acumulava, por achar que deveria ter um acervo pro meu trabalho.

Foi com essa pandemia horrorosa e a maternidade que eu percebi que ainda mantinha muita coisa que achava que precisava, mas não eram do meu estilo, não gostava o suficiente. Foi por não conseguir mais dar conta de realizar manutenção em tantas peças (inclusive as guardadas, tá?), de entender que meu tempo agora era restrito e eu deveria ser mais prática, que desapeguei de uma leva sem dó.

E ainda assim tenho muita coisa. Está sendo um processo, sem cobranças, nos momentos que eu avalio melhor cada peça e vejo que não funcionaram até hoje, mesmo sendo bonitas, de qualidade, etc.

Sobre guardar pra Nina, não vejo sentido fazer isso com coisas que não fazem nem sentido mais pra mim. Mesmo sendo peças boas, a criança cria memória afetiva ao ver a mãe ou pai ou familiar usando. Ver a peça sendo vestida, adornando quem é importante pra ela, presenciando momentos com ela. Ou algo gera encantamento e sua filha/filho pode pedir para guardar: foi assim com esse vestido da minha mãe, que está comigo há 30 anos e eu USO sempre!

Claro que tenho as peças que guardo de recordação, algumas da minha vó. Mas eu uso. Usei na gravidez e uso aqui no dia a dia. Eu gosto de vestir o que foi dela, mas não acredito que esse desejo seja o mesmo da minha filha. E tudo bem, sabe? Não gostaria de sofrer pressão ou chantagem para usar algo só porque alguém projetou expectativas pra cima de mim. É uma questão da pessoa, e dizer não, não é desfeita. É legítimo.

Voltando a me vestir sendo só a Ana

Escolher roupa sem pensar que sou mãe é algo raro pra mim. Nem lembro a última vez. Sempre que precisei sair com Nina, escolho a opção mais prática e nem vejo mais tanta graça porque o ponto alto dos looks agora é a funcionalidade. Precisa ser uma roupa que não amasse tanto (mas a maioria amassa e ignoro), que deixe os movimentos livres e, principalmente, me permita amamentar.

Juntando o cansaço e a névoa do puerpério, muitas vezes se torna simplesmente o ato de cobrir o corpo. É estranho ter tanta roupa e ao mesmo tempo não ter. Eu tenho ensaiado me olhar mais e enaltecer alguns momentos, porque encarar o quarto de vestir estava extenuante.

Esse vestido veio de uma publi que fiz e eu não pensei na hora sobre a tal funcionalidade que a maternidade exige – mas foi importante DEMAIS escolher algo pra mim, como eu fazia antes.

Vou poder usá-lo sempre? Não. Mas hoje acho que consigo vislumbrar algumas brechas que não exigem mais que eu fique grudada nela sempre, tipo outro dia saí por 5h e Nina nem quis o peito quando cheguei (!!!!!!!). Só quem viveu sabe o que isso significa hahaha

Tenho reaprendido muita coisa já que tudo mudou sob essa lente ampliada do ser mãe, por isso retomar esses pequenos deleites – uma simples escolha de vestido pra mim, apenas – tem sido muito mais saborosas que antes, preciso dizer. Que colorido lindo que chega quando a névoa ensaia se dissipar.