O embate das roupas desconfortáveis

Entre as peças, quais são aquelas que ganham, que dá vontade de chorar só de lembrar? Bom, sapato de salto e saia lápis são as minhas piores!

Fiz esse web story para o conteúdo que estamos desenvolvendo pro Google, mas achei legal trazer as enquetes das roupas mais desconfortáveis que você já usou aqui pro blog! hahaha!

A banalização dos mil reais chegou.

Há quase dez anos eu escrevi um dos posts mais emblemáticos do blog, sobre a banalização dos cem reais. Eu mudaria algumas coisas desse texto original, mas resolvi escrever a atualização dele para a dura realidade dos tempos que vivemos: a era da banalização dos mil reais, chegou. E eu, que ainda estava com o pensamento nos cem reais, fico chocada como a coisa só piorou com o passar dos anos e nem meu pensamento conseguiu alcançar tamanho absurdo.

É uma realidade triste demais.

Eu estava olhando os perfis de algumas pessoas que sigo nas redes, e tenho visto em comum uma série de looks mais simplificados, com rasteirinha, blusinha e uma calça molinha. Pensei: “Puxa! Essas marcas devem ser slow fashion, que bacana, vou olhar”. E nessa visita animada aos sites e e-commerce, eu caí pra trás: um top (TOP, gente, TOP tipo bustiê, simples, sem nada) por MIL REAIS.

Tudo no site custava mais de mil. Não tinha nada super elaborado, algo que justificasse o valor cobrado. Ok, entendo demais sobre criações sob demanda, valorização da cadeia de produção, tecidos de qualidade, modelagem, mas também entendo que existe toda uma historinha que é contada para justificar a cobrança de certos valores, inacessíveis para quem desejamos que seja inacessível.

Como disse uma seguidora, galera fazendo cosplay de pobre, pagando de desapegado, minimalista, garimpeiro de brechó, eco vegano etc, mas continua financiando disparidades sociais quando se torna banal pagar o valor de um salário mínimo em um pedacinho de pano. A moda segue infelizmente elitista, transformando o que era pra ser simples em pedaços superfaturados, justificados pelo selo da sustentabilidade.

Sustentável não é sinônimo de caro. Não é MESMO. Ser minimalista também não. O simples virou ferramenta de marketing.

O nosso poder de compra foi usurpado e reduzido, e voltando a surgir questões ainda mais sérias, com 19 milhões de famílias sofrendo de insegurança alimentar, sem saber se terão janta ou almoço, com a cesta básica muito mais cara e itens como carne saindo do cardápio do brasileiro.

Mas onde entra roupa nessa história?

Gente, todo mundo precisa se vestir. E é igualmente desumano não considerar que famílias não tenham poder de escolha, porque o vestir deve ser levado em conta para uma recolocação profissional, para uma entrevista de emprego, para atender algum desejo legítimo (afinal, as pessoas têm direito de desejar itens de consumo), seja por questões práticas, como alteração de tamanho de manequim.

A pandemia agravou de forma extremamente desigual o cenário, principalmente para mulheres, já que 50% tiveram que abrir mão dos seus trabalhos para cuidar de alguém. Por mais que saibamos sobre os malefícios do consumismo e que ninguém precisa de tanto no armário, não é um discurso simples assim, por compreendemos que vivemos em um sistema que julga, cobra e exige de mulheres – e isso inclui a imagem pessoal.

Eu, como mulher branca e magra, consigo fazer escolhas que eu sei que não passam pelo poder de decisão de mulheres negras, de mulheres gordas – afinal, sempre pude escolher uma maquiagem sem que meu rosto acinzentasse, sempre pude recusar comprar roupas na loja X porque eu sei que teria outras opções para o meu tamanho. Eu, que sempre tive escolha, me vejo em um momento mais difícil da vida sem meus cursos, com uma bebê pequena, com meu faturamento chegando a zero em alguns meses desse ano. Tenho vontade de fazer ajustes no meu vestir, mudanças da vida e tal, mas desanimei completamente. Como gastar uma grana alta sem saber os rumos daqui pra frente? Eu tenho roupas de qualidade e que amo e ainda funcionam, mas, novamente, nem todo mundo tem. E como faz?

Antes um vestido de festa eu garimpava por 300 reais. Inimaginável saber que esse é o preço que se paga hoje por uma camisetinha. Vestidos de festa normalmente são mais elaborados, com detalhes, costuras, pregas, botões, mas uma camiseta? Uma blusa básica? Sério isso? Uma leitora também comentou comigo: “Sempre me pergunto quanto custa o manufaturado, com bom tecido e produção justa e ecológica. Até onde é isso que eleva o valor do produto?”

Mesmo que você use duas mil vezes a blusa pra justificar, é uma questão de princípios escolher não pagar isso. Não que estejamos proibidas de gastar nosso dinheiro onde bem entendermos, mas consciência de classe vai bem, obrigada. Ninguém é melhor do que ninguém porque veste uma blusa sustentável, mas por compreender o momento que vivemos e saber se suas escolhas reverberam para alimentar essa disparidade social. É entender de onde você veio e valorizar essas escolhas, o que se tem, fazer durar, sem a alta rotatividade do comprou, nunca usou, está com etiqueta e vendeu.

E, veja, minha crítica não é sobre indivíduos específicos ou atacando marcas autorais. Eu sei dos impostos e do trampo que é. Mas pensemos sobre os rumos que algumas coisas continuam tomando e o quanto, cada vez mais, nossas escolhas precisam ser políticas. Em dez anos, saltamos da discussão dos cem reais para os mil reais – e esse assunto ganhou uma escala de progressão absurda demais, não acham?

O vestir será colorido no pós-pandemia?

Essa foi a pergunta que uma amiga fez e eu respondi de prontidão que sim. Depois fiquei pensativa, porque eu, por exemplo, acho que ainda estarei anestesiada desse tempo que foi pesado pra mim, mas por outro lado, também não aguento mais ficar só na roupa largada e pijama hahaha

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Acho que desacostumei também com os excessos, desacostumei com o ato de parar e pensar numa produção, escolher um look, no tempo que isso demanda. Mas também sinto falta do vestir para eventos específicos, para encontrar pessoas, sinto falta da alegria mais genuína e sem protocolos. Aos poucos tenho voltado a me arrumar em casa, mesmo quando bate a preguiça.

Então acredito que estaremos mais coloridos nessa catarse coletiva após pesadelo. Comemoraremos mais o hoje, estarmos vivos e sobrevivido.

Tirar o mofo das roupas, usar finalmente os meus sapatos que amo, ter de volta o prazer de se vestir para encontrar quem a gente gosta, de vestir-se de si mesmo só pra celebrar mais um dia. Se antes eu tinha preguiça de sair e fazer algumas coisas, eu hoje valorizaria muito mais esses momentos, inclusive não economizando nas roupas! Usando mais minhas peças festivas, tacando batom vermelho até pra ir pra esquina, elaborando mais as produções para não deixar as roupas guardadas tanto tempo.

inclusive estou gostando mais dos meus looks agora. Alguém também acha que seremos mais coloridos ou será tudo igual, nada mudou e estamos delirando? Hahaha

Não gosto mais de moda

Em 2018 eu gravei um episódio do meu podcast (que vai voltar, uhuuuu) em que eu compartilhei como parei de comprar por comprar. Hoje, eu definitivamente me considero uma pessoa livre desse hábito.

Quando engravidei, em meados de 2019, tive a consciência que não adiantaria sair comprando um monte de roupas. Eu já tinha algumas peças que acomodariam super bem a barriga, comprei um vestido estampado e um outro para ir ao casamento da minha assistente, já que estaria com barriga de 9 meses e dificilmente alguma peça festiva caberia (e eu nem usei, porque foi quando a pandemia estourou aqui e não teve casório). Ganhei algumas coisas, uma amiga desapegou de um vestido dela que me serviu até o fim, improvisei com o que tinha, inclusive um vestido que foi da minha avó e estava guardado.

Já com a minha filha, em uma pandemia, fiquei isolada e percebi que não tinha vontade nem de compras online. Acho que foi até algo esperado por conta do contexto, né?

Comprei poucas coisas nesse um ano e meio:

– um kimono e uma calça

– duas peças de segunda mão, um macacão e um oxford, desejos de onze anos atrás que garimpei no enjoei!

– dois peignoirs coloridos

Eu ganhei algumas roupas, sapatos e acessórios por conta do meu trabalho, o que também me ajudou em alguns momentos – mas eu também já ganhava antes, ou seja, ganhava e continuava comprando ainda. Considerei o saldo muito positivo se levar em conta como eram meus hábitos de consumo de alguns anos atrás, porque essa seria a quantidade de roupas em um mês, aliás, seria até mais.

Mudança de vida

A vida mudou muito do ano passado pra cá. Eu mudei de casa duas vezes, o que foi um gasto considerável; tive um bebê, que também teve alguns extras montando o quartinho, comprando itens, plano de saúde, pediatra, etc; deixei alguns trabalhos de lado por causa da pandemia, o que diminuiu muito meus ganhos; não ter perspectiva de sair, ir a eventos, encontrar amigos.

Mas acho que o principal foi que eu não sou definitivamente a mesma pessoa depois da Nina. É muita verdade quando dizem que a gente morre no parto para nascer uma nova você…demorei para digerir esse processo, mudei de corpo e de cabelo, meu semblante suavizou, meus valores se aperfeiçoaram, por isso hoje eu não me vejo mais comprando tanta roupa e sapato como antes.

Era algo tipo ir para uma cidade dar uma palestra a trabalho e gastar quase todo o cachê conhecendo as lojas de marcas locais. Tudo bem que tinha a ver com meu trabalho, mas não precisava gastar tanto. Numa das últimas vezes, em Curitiba, comprei a mais com medo de perder a oportunidade e já vendi três peças que foram caras, das seis que comprei. Eu me enganava sem sentir, não que eu fosse falsa no meu discurso, eu só não enxergava que estava me sabotando!

Eu acreditava no que se reverberava em consultoria de estilo “a mensagem que a gente quer passar”. Então eu ficava muito preocupada com isso, em me afirmar na imagem para compensar a insegurança da psique. Foram muitos baques emocionais que me fizeram me apaixonar pela possibilidade da moda transparecer o que eu não conseguia externar: uma mulher forte, corajosa, com ideais e sensível. Mas essa insegurança também fazia com que nenhum look estivesse bom o suficiente, me colocava em situações de comparação, sempre tinha alguém mais criativo, interessante, com uma roupa mais legal.

Era uma busca pela mensagem externa incessante, que aumentou quando pude gastar mais com roupas. Na verdade eu já fazia isso com bazares e lojas off, que me permitiam ter roupas que eu jamais teria condições de comprar se não fossem de segunda mão ou pontas de estoque. Mas eram roupas que nem sempre estavam em alta, eu comprava o que tinha e o que podia. Quando pude comprar as de preço cheio, que eram justamente as que estavam no topo das tendências, fui me sentindo mais estilosa. Mas ainda assim, as novidades surgiam e surgiam e não dava para acompanhar tudo.

Ficar em paz comigo, me afirmar como alguém com valor sem precisar de tanto esforço e gastos, foi essencial para fazer as pazes com meu estilo e limpá-lo do que era excedente. Isso trouxe uma clareza do que foi comprado apenas por impulso, do receio de estar perdendo algo incrível, do que tenho há anos e permanece soberano, da vontade de passar a tal mensagem pensando em eventos – eventos esses que eu nem fui, aliás.

Compreender que eu performava uma femilidade padronizada, que eu não precisava me comparar com roupa da ciclana ou beltrana, que estar na minha pele finalmente me traz um conforto na alma, é surreal de bom. Lamento pelo tempo e dinheiros gastos nessa empreitada? Hum…talvez, mas também não. Foi parte desse processo, a Ana do passado precisava disso.

Zero interesse em moda

Essa pegou vocês, né? Pois é, eu já não estava mais a par de tudo, agora então meu interesse é bem perto do zero, hahah, olha o drama! Mas é verdade: não acompanho instagrams de marcas (acho que já escrevi sobre isso), não passeio mais em shopping (oi, pandemia), mas a real é que mesmo quando passeava, ficava de bode das vitrines, não achava graça em mais nada. Ainda gosto de um garimpo de segunda mão porque é a oportunidade de ter peças-desejo do passado, mas aí que está, é diferente de comprar o que está em voga agora. Eu nem sei o que é tendência, aliás.

“Mas Ana, como você se atualiza?” Sabe, gente, não preciso estar a par de todas as novidades para indicar. Eu conheço as marcas que estão alinhadas com o que considero essencial, salvo as referências e é isso. Fico com vontade algumas vezes, mas aí vejo os valores e desanimo, rs.

Tenho me interessado mais em narrativas femininas, contar histórias, e daí veio a nova definição do meu trabalho: quem somos dentro das roupas. E é isso que importa e que liberta, que somos mais, muito mais. Encontrarmos o verdadeiro valor aqui dentro da gente. <3

O mito da roupa de ficar em casa

Eu trabalho em home office há uns bons anos, quase há uma década. Adoro, não troco por nada, mas eu esbarrava numa questão: não gostava de me arrumar em casa.

Durante meus 40 anos eu ignorei isso, e usava roupa surrada mesmo, qualquer short e camiseta. Pra dormir, a mesma coisa, não via sentido em gastar com pijama! Achava os modelos disponíveis péssimos (meu gosto, haha), com motivos infantis ou sexies demais. Achava tudo caro para o material oferecido e dormia de camiseta ou pelada mesmo, haha.

Mas veio esse vírus catinguento da porra e, com o trabalho de casa para muita gente, o capitalismo tratou logo de inventar a necessidade de se investir em homewear, com roupas confortáveis em modelagens elegantes, pantufas, chinelos nuvem, incluindo aí roupão e pijamas. Esse último então, todo mundo começou a fazer, hahaha!

Claro que existe a separação de marcas que sempre priorizaram o conforto e o slow fashion, marcas micro, que precisam também vender para sobreviver, né. Não estamos falando de oportunismo, mas de perceber também oportunidade.

E, pra mim, a oportunidade veio. Com a maternidade também, eu, que sempre tive aversão a roupa de ficar em casa e dormir, me vi comprando algumas e usando outras que já eram minhas, mas viviam encostadas – vou explicar:

Esse conjunto de kimono e calça de viscose eu comprei no início da pandemia, na Calma São Paulo. Tinha acabado de ter neném e minhas medidas estavam maiores, então minhas calças não serviam. Eu adorei o conjunto porque tem uma estampa criativa, digamos que inspirada na Marimekko. Conseguia amamentar e entrar em alguma reunião virtual sem problema!

Fora que o material, apesar de mais amassável, o que ignoro porque estou em casa, é o que permite que eu me abaixe e pegue um bebê. A maioria das minhas calças de mundo pré-pandemia são de tecidos estruturados, amplas, tecidos barulhentos, não permitem tanta movimentação e algumas tem a bainha para salto. Fora a minha mudança de medidas no pós-parto.

Ou seja: muitas roupas que tenho não estão aptas a estarem comigo em casa. Porque eu não parava em casa. Porque eu detestava ficar em casa, me sentia derrotada. Isso porque meus pais me proibiam de sair desde sempre, e eu fui criança e jovem de apartamento, de ficar enfurnada em casa vendo o dia passar. Criei pavor de estar presa em casa, e foi na terapia que eu ressignifiquei isso.

Roupa de ficar em casa x roupa de sair

Esse conjunto de top, calça e robe são de uma marca nordestina que prioriza o slow fashion, feita por mulheres, e uso de algodão orgânico paraibano. Uma delícia, tecido sem químicos. Finalmente, com o investimento em variações de pijamas e etc, encontrei uma variedade de roupas de dormir, que atendessem às minhas necessidades. Ufa!

Esse conjunto eu uso pra dormir, pra ficar em casa e não pensava em usar na rua até alguém comentar no instagram que não fazia distinção das suas roupas de ficar em casa e as de sair; como sempre priorizou o conforto, elas são usáveis nas duas situações.

Eu confesso que é claro que isso faz sentido, mas não muito pra mim, ainda. Eu ainda tenho a necessidade de pensar em roupas de sair como peças de tecidos planos, e essa história que percebi do horror de ficar em casa têm a ver com querer ficar vistosa, de sair ser um evento e eu estar vestida para tal. Mais uma vez, tenho ressignifcado isso, pq confesso que a pandemia tirou minha alegria de me arrumar pra sair.

Sem eventos e encontros, com um frio que não fazia aqui há séculos, comecei a usar roupas que estavam paradas. E to amando, viu? Não estou economizando nada, uso mesmo. Selecionei as mais confortáveis que eu já tinha, como essa calça que comprei no início da gravidez, e essa blusa de moletom. E ainda to aproveitando minhas papetes, hahaha, sapato confortável, pau pra toda a obra, que é estável pra cuidar de neném, haha!

Bom que essas peças funcionam para estar apresentável e gateeenha para algum eventual trabalho online e se eu precisar sair, também!

Ou seja, precisa comprar um guarda roupa inteiro pra ficar em casa estilosinha? NÃO. Isso é criação de demanda mercadológica. Dá pra olhar pro que se tem e exprimentar! É desfazer essa crença de roupa de missa, haha, que só se usa pra quando tiver um evento extraordinário, já que com essa doença pairando, estamos vendo que estar vivo tem sido um feito, um motivo mais que especial e urgente de se vestir pra si mesmo como um gesto de carinho, de celebração.

E com vocês, como é essa questão do vestir em casa X sair?

Qual é a imagem de uma mulher poderosa?

Hoje, em uma postagem minha no instagram, uma leitora antiga falou da identificação com meus looks atuais ser maior, mais estilo “carioca”: despojados, coloridos, com sandálias baixas e confortáveis, sem terceiras peças e saltos altos inconcebíveis para as calçadas daqui. E acrescentou que temos que desfazer no nosso imaginário que mulher poderosa é aquela que se veste de executiva ou com roupas de inspiração no guarda roupa masculino.

Durante muitos anos eu aderi a alguns aspectos dessa indumentária que me relacionava a poder e elegância. Depois, numa avaliação do meu estilo, percebi que eu amo peças com cores lisas, sem tantas estampas (estampas mais pra geométricas), com cortes e modelagens arquitetônicas, camadas e volumes. Eu brincava que gostava de me vestir à paulistana, haha, aquela coisa de roupa preta, tanto que comecei a comprar roupa mais em SP por me identificar mais com as marcas de lá do que as daqui, que copiavam demais as estampas florais coloridonas da FARM e vestidos esvoaçantes. Aff, era cansativo tanta cópia desse estilo garota carioca zona sul.

Ironicamente a blusa desse look, de 2014, é da FARM, hahahaha! Mas olha aí o que eu fazia, já mandava um blazer, uma calça escura, um sapato fechado. Aí você me pergunta, como carioca dava conta de um look quente assim? Pois é, não dava. Eu passava era raiva quando o calor chegava, odiava me vestir no verão, e culpava a estação, não o meu guarda roupa cheio de roupas de um estilo de vida que não era o meu.

Fora essa associação classista e preconceituosa que a moda colorida e despojada não pode ser elegante. Em cidades mais quentes, como no norte e nordeste, em que é impossível se vestir com tantas camadas, não são elegantes então? Não são poderosas?

Com a maternidade e a pandemia, o choque de realidade de entender, de uma vez por todas, que meu guarda roupa não estava mesmo alinhado à minha vida. Hoje, querendo conforto e praticidade pra ficar com minha neném, com os pés sem machucados e sem chulé, hahaha, eu continuo amando peças impactantes, mas elas podem ser mais adequadas ao clima e ao meu bem estar.

Mas, voltando à pergunta desse post, qual é a imagem de mulher poderosa que vem à sua cabeça?

É a executiva com terninho, andando de salto agulha fechando mil contratos? É uma mulher amamentando? É a sua avó? É a erveira que faz um trabalho de saúde pública para mulheres desassistidas? É a Beyoncé? É você mesma?

E sendo a imagem da mulher de terninho, por que terninho? Por que não fechando contratos de vestido colorido? Ou de tênis e camiseta? Por que signos masculinos (formalidade de terno, roupas escuras e sóbrias, calças alfaiataria) é que normalmente estão associados ao poder?

Um exemplo de mulher poderosa que conheci em Belém, no mercado Ver-o-peso: Tia Coló, a erveira e seus feitiços. Que energia que ela passa, nossa. Olha esse look, que maravilhosa <3 O quanto a imposição de um estilo padronizado, enlatado, superestimado por ser sudestino ou da branquitude, está arraigado na nossa mente. Uma descolonização das nossas referências é urgente para abrangermos um repertório maior de mulheres que são símbolos e referências na nossa cultura.

Sem ele, eu não seria grisalha

Foi preciso a validação masculina para que eu tomasse coragem de parar de pintar o cabelo, aos 39 anos. Foi quando meu companheiro falou, vendo minha preguiça de ir ao salão e com a raiz cheia de pontos brancos, que eu ficaria linda grisalha. Quando ele disse isso, foi o momento em que a ficha caiu para eu entender que existia a alternativa de não pintar mais.

Eu acho isso bem triste, pra ser sincera, precisar da aprovação de um homem para tomar a iniciativa. E sintomático, se observarmos um tiquinho de como funcionamos quanto sociedade. A mulher que teme não ser desejada, envelhecer sem um companheiro, que só é valorizada quando é casada. A mulher que tem que se manter em dia, unhas, cabelo, pele, dentes, poros, pés, para fazer valer o amor que ela recebe do seu amado. Se a união chegar ao fim, culpa dela que não se cuidava, falarão.

Descobri recentemente que esse era meu medo também, reflexo de uma juventude com a autoestima destruída. Por isso, mesmo com minha mãe como referência de mulher grisalha, nos anos 80 ainda, eu não conseguia tomar para mim essa possibilidade. Cresci com os colegas perguntando se era minha mãe ou avó – e olha que ela me teve com 24 anos. Eu via minhas amigas balzacas, mais recentemente, com as cabeleiras brancas e pensava na coragem que elas tinham. Ainda sugeria uma maquiagem de leve, como eu era bobona intrometida.

Fico especialmente feliz ao receber mensagens de leitoras e amigas que usaram minhas fotos para incentivar as mães, avós, sogras e amigas a se perceberem bonitas com suas mechas brancas. Ou vocês mesmas desejando ter logo fios brancos (!!!) porque se inspiram em mim. Esses relatos são especiais, porque em 2019 eu era uma das únicas por aqui – até recebi no início um spray para cobrir os brancos de uma empresa desavisada –, e claro que eu entendo que as marcas não querem perder essa fatia de mercado, que vem crescendo e se afirmando, mas também penso que são avanços significativos.

Por mais mulheres sendo as principais incentivadoras de outras mulheres. Por mais mulheres enxergando suas próprias belezas. Que essas histórias de recomeço sejam cada vez mais diferentes da minha.

Nunca estive tão bonita.

Eu sei que esse título está narcisista, mas é uma verdade que não tem como esconder, ainda mais para quem sofreu com bullyings sobre sua aparência, na rua e em casa, a vida toda. To gata bagarai e tendo uma rotina infinitamente mais SIMPLES!

Bom, eu sei que falar de quebra de padrões é algo ainda distante sendo mulher branca e cis mais próxima do que se entende por padrão, até porque as nossas conquistas individuais não correspondem ao que a maioria sofre de opressão dentro de um sistema machista, racista e patriarcal. Ainda estamos sob essa lente cruel, sofrendo em diversos níveis, inclusive a apropriação do sistema de causas libertárias para transformar em produto.

Mas ainda assim acho tão importante compartilhar que estou maravilhada como estou me vendo uma mulher bonita me livrando de uma série de procedimentos, coisa que nunca percebi antes.

Foi após a separação do meu primeiro marido que a transformação começou. Comecei a me ver uma mulher desejável e desejante, para mim mesma. Antes eu usava muito as roupas como escudo de um estilo para performar força, feminilidade, impacto. Eu me escondia sob as formas porque não gostava da minha própria forma. Tava sempre sorrindo nas fotos não só porque sou simpática, hahaha, mas me achava feia sem sorrir.

Adorava meu cabelo curto, mas confesso que durante muito tempo sentia algo estranho ali. Não sei, um lado do corte eu nunca gostava e tal. Uma vez estava no terreiro e recebi a mensagem que Oxum (orixá da beleza!) estava chateada porque eu estava cortando muito o cabelo, e eu falei que nãoooo, eu ficava bonita sim. A audácia! hahaha! E Oxum estava certa, CLARO!

Fora todo o esforço pra pintar o cabelo odiando passar essa química, o tempo e dinheiro perdidos no processo. Meu cabelo caía demais, vivia com uma textura pesada, poroso, sem brilho. Cheguei ao cúmulo de comprar spray gloss de brilho para o cabelo porque não me conformava. Aí cortava bem curto também porque via minhas fotos jovem, de cabelão, e me achava feia demais.

Eu era uma garota triste. Me sentia só, eu por mim mesma.

Fazer tanta força boa parte da vida, para correr atrás do meu, foi cansativo. Eu me sentia velha exausta aos 30 anos, gastei com procedimentos para melhorar o colágeno na pele, para disfarçar olheiras e não adiantava. Batia ponto na manicure toda semana porque achava meu formato de unhas feio (!!). Ia a podóloga todo mês porque os pés viviam podres, mas não atinava que poderia ser o tanto de sapato que eu usava que detonava eles, aumentava calos, espremia as unhas. Vez ou outra comparecia na depiladora, mas suando frio, tremendo, porque odiava sentir aquela dor. Depilação a laser também senti dor, abandonei logo. Não me via sem maquiagem porque precisava disarçar a pele, o cansaço, as rugas e olheiras. Ah, e compensar também um olho maior que o outro (!!!!).

Abandonei tudo isso com a pandemia. E não me vejo mais voltando a fazer nada disso.

Sei dos meus privilégios de mulher branca que trabalha em casa, mas também sei que sou mulher que sofreu com opressão do sistema por todos esses anos, sem questionar. Era assim, então vamos lá. Esbravejava, ficava mal, mas fazia porque achava que não teria solução. Era isso, ou me achar mais feia ainda. Imperfeita. Toda errada.

A reviravolta

Meus pés estão lisinhos, não tenho mais chulé, nem dores, estão até mais simpáticos, ahhaha. Não coço mais a virilha e as axilas. O cabelo está sedoso, lindo, brilhoso, um caimento espetacular mesmo sem ver uma tesoura há mais de um ano e meio. Mesmo com barriga pós-gestação, estou apaixonada pelo meu corpo, por mim. Não uso mais maquiagem, às vezes um BB Cream e um batom, ainda mais em dias de noites mal dormidas, mas não é aquela coisa obrigatória. Tenho dormido cedo com a minha neném, o que impactou positivamente na qualidade do meu sono, e ainda amamentando de madrugada, vejam vocês.

Tirei do armário todas as roupas, sapatos e acessórios que não dialogavam mais com essa minha versão, agora vou usar todas as roupas incríveis sem precisar de um evento para isso. Estou simplificando o estilo para o conforto, o bem estar, porque não preciso performar mais. Sinto um alívio enorme de me ver cada vez mais com menos, e sem a sanha de querer comprar, comprar. Estou feliz ao me ver no espelho, de cara lavada inclusive. Amo não precisar cutilar nem pintar as unhas, deixo bem cortadas e ficam tão bonitinhas.

Estou me sentindo bonita porque finalmente abandonei o que não fazia sentido, principalmente pq abandonei o medo de não estar perfeita aos olhos dos outros. Até porque eu não sou. E sou linda assim.

A C&A vai criar coleções em até 24h – o que isso significa?

Em matéria da InfoMoney, o CEO da rede de fast fashion, Paulo Correia, anunciou o investimento como estratégia para turbinar vendas pelo e-commerce, já que as vendas online cresceram em 180% mas tiveram queda nas lojas físicas de mais de 20%, por conta da pandemia. Em menos de 24 horas, mini coleções serão desenvolvidas e aquecidas pelas redes sociais, onde, segundo a matéria, rola o calor do consumo.

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Alerta Tendências é o nome da estratégia, que quer superar o modelo de velocidade da alcunha fast fashion, e capitaneada por influenciadores digitais estimulando as vendas. “120 profissionais das áreas de estilo, logística e também os chamados “buscadores de tendência”. Com as informações da internet em mãos, os estilistas precisam criar uma peça que deverá estar disponível para pré-venda em 24 horas no site da companhia – contando fotos com modelos e todas as especificações. As entregas são realizadas em até 15 dias. A princípio, essas coleções terão 100 unidades fabricadas por peça.”

Segundo o CEO, isso reduzirá o desperdício – lembremos das iniciativas de sustentabilidade do Instituto C&A, de logística reversa, coleções com algodão orgânico, etc – porque provocará compras mais assertivas do consumidor, evitando desperdício.

Vamos para a minha análise desse projeto uó?

Vocês lembram quando eu fazia resenha de coleções especiais da C&A e, numa determinada época, era uma atrás da outra, com até menos de duas semanas de intervalo? A quantidade de roupa ruim, de peças encalhadas nas araras e provadores, de despejo de tendências que ninguém queria…até perceberem a mudança dos consumidores e investirem em coleções cápsulas, focadas na diversidade de corpos

Alguém consegue conceber a sobrecarga da criação em um modelo de negócios como esse? Na contramão da C&A, a Renner tem faturado alto com suas coleções com marcas atreladas a sustentabilidade, como a mais recente, com a Insecta Shoes, e artistas conhecidas das redes sociais, que desenvolvem projetos sociais inclusive. Mas pegar uma equipe de criação e desenvolvimento de coleção para criar mini coleções de CEM peças de um dia para o outro, como isso é sustentável e, principalmente, viável em termos de valores humanos? Como atender tantos anseios de tendências, e ainda dizer que isso reduzirá desperdício? Imagina a pressão e correria que essa equipe vai passar, nossa. O desgaste emocional que sofrerá, principalmente as costureiras, que são o elo mais fraco aí.

Isso expoe a fragilidade do setor, que emprega muita gente e não pode não vender. Que vai contra o que a empresa prega de avanços para iniciativas sustentáveis para pdoer reverter uma queda de lucros e começar uma competição de vendas para o digital, que está defasada para eles.

Em que essa estratégia estará alinhada aos valores dos programas sociais da empresa? Isso se chama greenwashing, quando a sustentabilidade é apenas fachada das ações socioambientais. Buscar por soluções duráveis, com criações elaboradas com cuidado, apoiando iniciativas, não parece ser mesmo interessante para a varejista, que deixa claro em ações como essas o que realmente importa. Lucro.

Maquiagem simples com impacto

Fiz até um web stories sobre o tema, mas resolvi trazer também pro formato post no blog: vocês devem ter acompanhado nos últimos anos que eu estava amando usar só um detalhe de lápis azul no cantinho da linha dágua, né?

Aconteceu bem sem querer: eu estava voltando da praia com uma amiga, quando lembrei que tinha recebido um convite de um evento de carnaval num shopping da zona sul carioca. Estávamos com um look pós-praia até bacaninha, mas antes demos um tapa no visual na loja da Quem Disse Berenice, afinal, evento de carnaval, queríamos alguma maquiagenzinha colorida, mas não a ponto de comprar algo só pra isso, hahah!

Aí nos maquiamos mesmo com os produtos de teste, hahah, e eu peguei o lápis Zuzulino, achei a cor linda e decidi passar. Quando apliquei só no cantinho, eu parei e achei lindo! Deixei assim. E comprei o lápis, rs!

Desde então usei pra caramba esse recurso, tanto que virou marca registrada e muitas leitoras começaram também a usar. Não sei pq a marca nunca fechou um publi comigo, mas enfim. Deixei o truque de lado na gravidez e voltei há pouco tempo com ele, mas só gosto quando estou com a pele mais iluminada, descansada de uma boa noite de sono.

Separei mais algumas inspiraçõesde makes simples, simples, aqueles detalhes de efeito que eu quero testar nas próximas vezes, aí eu mostro pra vocês!

Adoro a ideia de pontinhos no lugar de um delineado, de uma sombra cremosa colorida no lugar de mil camadas esfumadas, de uma cor em algum canto. Sempre amei a simplicidade na hora de me maquiar mas demorei muitos anos pra entender isso! Um batom vermelho e só, um ponto colorido, bochechas mais rosadas…

Qual recurso que é simples mas vocês amam o efeito e usam?