Impressões da Ashua, linha plus size da Renner

Uma das reclamações mais recorrentes que eu leio aqui no blog quando vou tecer minhas impressões de coleções especiais das fast fashions é das meninas de tamanhos maiores que não tem nem a opção de provarem as peças. Quem é gorda não tem vez nos lançamentos, já que as lojas convencionaram os tamanhos plus em manequim 44, 46 no máximo.

E vamos combinar que 46 está longe de ser plus – as mulheres tamanho 50, 52, 54 e por aí vai, também querem se sentir representadas. Também querem chegar aqui e conversar sobre as coleções dos estilistas. Por mais que eu tente sempre mostrar marcas que contemplem o GG pra cima, acho fundamental dar espaço para quem também quer opinar sobre o assunto, cobrar das marcas que ampliem a sua grade, que coloquem, por exemplo, meninas de tamanhos maiores para modelar roupas para quem veste numeração grande.

Por isso eu chamei a Laila Paschoal, que veste 52/54, para dar as suas impressões da nova linha plus size da Renner, a Ashua, que eles denominam Curve Size. A rede lançou até um site exclusivo, o que facilita demais, mas é uma coleção ainda limitada ao online e, apesar de ter itens muito bonitos e atuais como quimono, saias midi em jeans suede e vestidos jeans, não é uma coleção super fashionista, mas tem boas bases pra montar várias produções de acordo com cada estilo. É um passo adiante? Se é, e isso é incrível! Mas contempla todos os tamanhos de verdade?

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Vamos às impressões da Laila:

“Olá, meu nome é Laila Paschoal, visto 52/54 e a Ana me convidou a escrever para dar minhas primeiras impressões para a nova linha plus size da Renner, a Ashua, que ocorreu agora no finzinho de março.

Antes de falar sobre, gostaria de falar sobre roupa para gordas, que chamamos de plus size.

O mercado plus size brasileiro (nome dado pelos americanos para definir roupas que não se encontram na linha “convencional” e por aqui convencionou-se que essa numeração seria a partir do número 46) vem crescendo exponencialmente nos últimos anos, porém ainda é limitado em modelos, estilos diversificados, numerações e qualidade. Um exemplo: mulheres gordas que vestem mais de 54 tem muita dificuldade de encontrar roupas dentro desse mesmo segmento. Parece um absurdo?

Há uns poucos anos, os blogues de moda plus size tem criado voz, aparecido e mostrado para o mercado que mulheres gordas se vestem além do “vestido capinha bujão de gás” ou calça preta e blusa marrom. Existem milhares de mulheres gordas de estilos diferentes, gostos diferentes, idades diferentes e tamanhos e formas de corpo diferentes. E gostaríamos que todas as marcas intituladas plus size tivessem roupas para todos os tamanhos de gordas, tecidos nobres, boa modelagem, caimento, aviamentos diversos e estampas modernas. Gostaríamos. Mas não é a realidade. E estamos um pouco longe disso.

Então toda vez que uma marca se joga na internet investindo em mídia social e marketing, contando pra todo mundo, “vem roupa para as meninas gordas por aí“, cria-se um burburinho muito grande e uma expectativa enorme em torno disso tudo. A mulheres, gordas ou não, querem se sentir representadas. E quando não se atinge essa expectativa o que acontece? Frustração! Mesmo que quem tenha criado essas expectativas tenha sido nós mesmas. 🙁

E não aconteceu outra coisa com a Ashua. Quando o site foi lançado, o burburinho foi enorme e algumas blogueiras do segmento emitiram suas opiniões nas mídias sociais, e a maioria foi negativa. Recomendo a leitura deste post aqui, que a Paula Bastos fala um pouco das reclamações feitas por muitas de nós de uma maneira positiva e construtiva. (nota da Ana: a Ju Ricci fez uma análise muito boa também)

Curiosa que sou e apaixonada por moda, fui conferir, esperando coisas lindas como as das linhas convencionais da Renner. (Não sei vocês, mas a Renner é a loja de departamento que eu mais gosto e tenho algumas coisas de lá , pois o GG da linha tradicional, na parte de cima, me serve.)

Primeira frustração: queria coisas coloridas, estampas exuberantes. Não achei nada.

Segunda frustração: a tabela de medidas. Embora eu estivesse “dentro dela”, e as coleguinhas que vestem mais do que eu? Ou tem mais busto? Ou mais bunda? Pois meu quadril estava no limitezinho do 54/EG (a maior numeração).

E resumindo as frustrações: tudo mais do mesmo. E não que isso seja de todo ruim, afinal “o mais do mesmo” está cheio de peças super usáveis e ótimas para “um trabalho no escritório”.

Pedi este vestido e esta regata longa (ambos no tamanho EG – o maior da grade) e esperei ansiosamente até ontem.
E mais uma vez me frustei.

A foto abaixo representa, independentemente de peso, uma frustração. É a vendedora que diz: “esse aqui é o seu tamanho”, e quando se experimenta, o vestido não desce nem pelos ombros. E na mesma hora pensei “será que engordei tanto de um dia pro outro?”, “será que veio errado?”.

ashua-hojevouassimoff

Tira o vestido, tenta de novo e nada dele entrar.
Manda mensagem pra amiga e descobre que você não é a única.
Mas eu insisti. Tirei. Analisei a forração do vestido, onde estavam as costuras que estavam impedindo do vestido de descer no meu corpo e tentei novamente.

linha-asua

O vestido parecia que ia se desfazer (a essa altura, já tinha tomado a decisão de não devolve-lo e mandar adaptá-lo pro meu corpo em uma costureira).

ashua-renner

Ele estalou inteirinho. Desceu. Vestiu bem justo. Mas a bainha arrebentou e fiquei imaginando “como vou usá-lo se quiser fazer xixi?”, pois precisaria subir e passar por todo aquele sacrifício novamente.

Foi problema de modelagem? De escolha de tecido? Foi a falta de um zíper pra facilitar a entrada dele? Não sei dizer. A única coisa que me senti foi mal, pois na página principal da marca está escrito “A GENTE ACREDITA QUE CADA MULHER PODE TER O CORPO E AS CURVAS QUE QUISER./ A gente acredita que as mulheres não tem que vestir esse ou aquele tamanho de roupa, as roupas é que tem que servir às mulheres.​”

E não foi isso que aconteceu. Eu posso até ter o corpo que eu quero, mas a Ashua não soube vestir as minhas curvas, nem muito menos fez um vestido pra me servir.

E desabafando com a amiga Hadiene Fernandes, descobri que a saia jeans midi, tamanho 54/EG, não tinha nem de perto a cintura informada por eles na tabela de medidas. Ou seja? Mais uma consumidora frustrada e decepcionada com a marca. Neste caso, a Hadiene entrou em contato com o facebook da marca, que disse que irá resolver este problema.

E eu me pergunto: Como? Aumentando a modelagem? Mudando tecido? Corrigindo a tabela?

saia-ashua

Por fim, gostaria muito que a Ashua, junto da Renner, ouvissem nossas reclamações com a marca e insatisfações generalizadas com o mercado plus size, e fizesse disso tudo um bolo lindo, recheado e com uma cobertura maravilhosa; e que as críticas fossem vistas como incentivo e um desejo enorme de fazer o mercado plus size ser justo e lindo para todas nós, mulheres gordas.

Obrigada, Ana, pelo convite e por abrir aqui um debate importante para o segmento da moda plus size no Brasil.”

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