Não tenha medo de entrar nas lojas

O título é o mesmo de um capítulo do recente livro da Costanza Pascolato, O Essencial. O livro é excelente e esse capítulo foi um dos que me chamou atenção. Quando comecei a trabalhar como consultora de estilo, percebi como a maioria esmagadora das minhas clientes tinha suas ressalvas ao encarar as lojas. Dou razão a elas em vários aspectos: nem sempre o atendimento é satisfatório, tem vendedor que não gosta de prestar um bom serviço, tem gerente que intimida.

O outro aspecto que elas levantavam era da coragem de entrar numa loja mais “cara” ou “de marca” e não ser bem recebida. Ou ainda a vergonha de perguntar pelos preços, de experimentar e não levar nada. Tem ainda quem prefere não ser notado ou abordado e assim faz suas escolhas em lojas de departamento, sem pressão por parte de vendedores, podendo selecionar à vontade o que quiser ou não comprar. Realmente, a liberdade nas fast fashions é bem maior! 🙂

Meyer Scherer & Rockcastle- Urban Outfitters Headquarters

Eu sempre fico curiosa com essas histórias porque eu sou o oposto: nunca tive receio de entrar nesses lugares. Mesmo na época em que eu era bem, mas bem duranga, rs, sem dinheiro até pra comprar o lanche na faculdade, tinha cara de pau suficiente pra entrar nas lojas de Ipanema e perguntar pelas araras de desconto e nunca deixei de entrar com um sorriso, para desarmar qualquer tentativa de análise, rs.

Tudo bem, ser desinibida ajuda, mas principalmente porque sempre encarei moda de uma forma mais leve. Não me espantava com os valores das roupas no editoriais da revista e nem pensava que aquilo não seria pro meu bico; pelo contrário, eu guardava as referências para buscar similares em lojas populares ou para ir atrás na própria marca, logicamente em época de bazar ou liqui.

Essa cara de pau me fez adquirir preciosidades a preços módicos, principalmente naqueles cestinhos que ficam nos cantos das lojas com tudo a 15 reais. Eu não sei vocês, mas venho de um mundo em que dinheiro é dinheiro – seja ele 5 reais ou 5 mil. Então aprendi que meu dinheiro, por mais que não compre alto luxo, tem o seu valor. Que inclusive posso escolher onde melhor investi-lo.

Claro que faz toda a diferença do mundo ir a uma loja em que você é bem recepcionado, que ninguém te olha torto porque você quer provar a peça mais em conta da loja ou porque está de chinelo (aliás, aqui no Rio isso não colaria). Mas o que estou dizendo é que o medo de tentar nos impede de ter boas surpresas. Já mostrei pra cliente que muitos lugares tem uma equipe bem preparada, educada e cordial, que está ali para prestar um serviço da melhor forma. Em 90% que entramos foi assim – as que não fomos tão bem recepcionadas, que pena, perderam uma ótima oportunidade de ter gente tão legal como cliente.

A marca me fideliza se eu vejo que trata bem do idoso à criancinha, da moça gordinha à magrinha, da mulher que aparenta ser mais simples à riquinha. Se entende que eu to ali para experimentar, testar ideias sem compromisso – afinal, lojas são laboratórios de ideias, como bem descreveu Costanza. Eu provo a roupa, olho de frente, de costas, abaixo, finjo que estou no metrô, rs, ando pela loja, penso em quais peças que eu tenho que combinariam com ela…se estou na dúvida, eu peço pra reservar, vou passear mais um pouco e volto para tirar a reserva ou comprar.

Tem roupa que eu namoooorrrooo meses a fio, fico secando imaginando o dia em que ela custará 50% a menos. Quase como se chocasse um ovo, haha, mas eu também tenho o direito de escolher o quanto eu quero/tenho pra gastar. E se a gente sabe que mesmo na liqui as lojas têm margem de lucro, então qual o problema?

tentar

Um dos momentos mais bacanas no meu trabalho com consultoria de estilo é justamente o dia do personal shopper, acompanhando a cliente! Vou um dia antes para a pesquisa de campo, seleciono as lojas e as peças que eu quero que ela experimente. Aí volto com ela e testamos várias ideias, sem compromisso nenhum de comprar! 🙂 A proposta é abrir a cabeça para novas possibilidades, mostrar como ela deve escolher as roupas de acordo com seu estilo/tipo físico e, principalmente, perceber que outras lojas podem ter ótimos preços, qualidade e um bom atendimento. 🙂

Pondero muito mais na hora das minhas escolhas sabendo que posso ir no OFF da marca tal e pagar até uns 20 reais mais caro que nas fast fashion, mas garantir um produto com mais qualidade, melhor acabamento. Ou o oposto: entrar nessas lojas e perceber que muito do preço alto é status, é posicionamento da marca, mas que não oferece muita coisa quando se fala em qualidade e bons materiais. Sendo assim, prefiro ir na loja de departamento ou na Saara pagar 1/3 do valor por uma camisa do mesmo tecido. Tem marca que realmente não merece nem nosso sorriso na loja – uma pena.

Entrando em todos os lugares, da baciada ao luxo, pude encontrar verdadeiros tesouros. Não devemos nos sentir intimidadas por ninguém que nos olhe de cima a baixo (aliás, cadê treinamento de equipe?) nem por ambientes amplos e nem ter preconceito com lugares mais simples. Pra fazer valer a equação qualidade + preço +  bom atendimento, gasta-se muita sola de sapato – ou se mergulha de vez nos achadinhos online. 🙂

Vamos encarar nossos medos certas que somos merecedoras do melhor – seja ele na liqui, na feira, no bazar ou na loja de grife. 🙂

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