O cabelo mudou, a cabeça mudou.

Quando eu escrevi o post sobre a limpeza nas ideias, no armário e no estilo de vida, não me referia apenas a tirar um bando de roupa do armário e deixá-lo ainda mais enxuto: a mudança começou pelo meu cabelo, não sei se vocês notaram que eu abandonei o estilo sidecut.

Quando eu cortei assim pela primeira vez gerou rebuliço e assim continuou por algum tempo até eu trocar de cabeleireiro e ajustar o corte assimétrico do jeito que eu queria. O problema é que essa mudança foi interestadual – corto toda vez que vou a SP, o que não é suficiente para um cabelo que exige manutenção mensal. Eu já estava de saco cheio da agonia de correr atrás de profissionais que soubessem dar continuidade ao corte e que não custassem o olho da cara e, depois de 3 anos nessa, igualei as laterais.

cabelim

Eu achei que fosse perder minha identidade, deixar de me diferenciar, de mostrar minha irreverência, mas não: deu alívio. Eu já estava questionando não só o corte como a praticidade dele, de depender de profissionais que soubessem cortar do jeito que eu queria, de ter que secar com secador todo dia para ficar com o cabelo virado pra dentro, de passar pomada…me libertei e, pelo contrário, não só não estou sentindo falta como não uso secador há meses, já que o meu queimou.

Não acho que seja ainda um corte muito fácil, mas pelo menos não exige um grau de complexidade. Essa primeira limpeza no visual foi fundamental para eu me libertar de pelo menos uma das amarras complicadoras da minha rotina.

Não estou com tempo para ir nem até a esquina, pra que complicar mais? Não consegui ainda tirar tudo que eu quero do meu armário e contar a sua proporção atualizada, mas o processo começou e já entendi que eu também crio minhas muletas emocionais – o cabelo era uma delas. A necessidade de me destacar e me diferenciar dos outros que mora em mim desde criança não precisa mais de tanta informação tanto nas roupas quanto no corte. A essência colorida é a mesma, mas minha vida mudou e eu preciso me adequar a isso sem criar tantos percalços.

Minha fala e minha escrita tomaram a frente dos paetês e das cores. Eu sinto que não é mais o look do dia que todo mundo espera de mim. É o meu discurso o mais aguardado, é o meu posicionamento e minha maneira de perceber as coisas que tem feito muito mais a diferença. Da vestimenta para a fala, a ferramenta é a mesma, mas ficou tão poderosa quanto.

O blazer de paetê qualquer pessoa pode ter, mas qual é a sua mensagem nesses novos tempos? Parcelar no cartão? Ou se questionar?

Outro dia, em sala de aula no curso de formação de consultoria de estilo que dou no Senac, uma aluna até questionou essa onda de todo mundo estar simplificando, se eu enxergava isso como mais uma tendência-modinha em que daqui uns anos todas que estão de saco cheio do armário cheio voltarão a consumir loucamente.

Acredito que a forma que todas estamos percebendo o consumo de moda (e coloca outros itens aí!) mudou e foi para um caminho sem volta ao que era. Se há 5 anos eu pagava 500 reais de aluguel, hoje pago quase o triplo enquanto um trabalho que eu cobrava, por ex., R$2 mil só consegui aumentar a duras penas para R$2,5 mil. É aceitar essa desproporção ou não ter nem como pagar o aluguel. É aumentar mais e mais a carga de trabalho ou não ter reserva para os próximos meses.

Eu não sei pra vocês, mas a realidade, como sempre, chegou com os dois pés na porta. E não é parcelando no cartão que vou me iludir que tenho o mesmo poder de compra que há alguns anos. Não é passeando pelas lojas que em sua maioria só trazem mais do mesmo e gritam com todas as letras que só quem é magra, nova, garota de Ipanema e sarada que podem comprar ali, que estão há cada dia com qualidade mais inferior e preços ainda mais extorsivos. Desculpa aí, mas o meu armário tem muito mais coisa legal e melhor do que as araras de descontos.

Meu olhar está voltado para quem me surpreende, para quem me toca com propostas realmente boas, conscientes e inovadoras. Esse é o perfil melhorado de quem consome hoje, da pessoa que enche o saco de ver tanto look do dia com roupas novas sempre; a leitora quer ser maior que isso, ela não quer mais se endividar por conta de publicidade vazia. Se antes a gente não pensava no que estávamos consumindo, agora temos um True Cost no Netflix pra mostrar como é que a banda é tocada nesse mercado.

Não virei a pessoa mais consciente do mundo, estou longe ainda disso, mas se a minha balança tiver que pender pra um lado, eu prefiro que seja mais pro lado do bem do que do mal. E esse é sim um caminho sem volta que o mercado precisa acompanhar.

Como vocês podem ver, não foi só o meu cabelo que mudou, não.

Compartilhe nas redes sociais
pinterest: pinterest
tumblr:
google plus: