{pensamento do dia} A gente nasceu para ser feliz

“Por que você é tão feia?”.

Não pude acreditar no que tinha acabado de ouvir; aquele menino mais velho, sentado ao meu lado, sussurrou essa frase ao meu ouvido. Em contrapartida a minha reação, de completa perplexidade, o seu sorriso maldoso, de quem estava sentindo muito prazer em humilhar. Levantei correndo, pois já era a hora da saída e fui pra casa, chorar. Me tranquei no banheiro, olhei para o espelho e repeti: “eu sou feia.”

Eu tinha 8 anos, mas esse episódio nunca mais saiu da minha cabeça. Não apenas pela maldade em si, mas porque foi a única vez que me vi no espelho de forma diferente do que eu normalmente me percebia. Eu me sentia linda. Mesmo com meus dentes tortos, mesmo sendo bem magricela, eu me achava realmente bonita.

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Mas acho que eu não era a criança mais linda do bairro, rs, então logicamente o bullying se repetiu por muitos e muitos anos. Claro que em muitos momentos eu me sentia triste, desamparada e chocada pela falta de atitude dos profissionais de educação dos colégios – que só queriam enfiar matérias goela a baixo, sem se importar muito com o que acontecia fora isso.

Mesmo com os repetidos episódios, inexplicavelmente eu não via o que os outros apontavam. Eu continuava me vendo em frente ao espelho e encarnando a cada dia uma diva diferente: com o casaco de pelos da minha vó, eu era uma atriz muito charmosa; com os brincos e vestido da minha mãe, uma mulher elegante, que seduzia vários meninos, rs; e vivia feliz comigo, talvez numa visão distorcida da realidade, mas sem perceber o que um coro matraqueava quase que diariamente.

De alguma maneira eu vivia um mundo de sonhos que me faziam acreditar a cada dia o quanto eu era bonita e que eu tinha nascido para ser feliz. Não importavam as adversidades da vida: a voz interna dizia que eu era feliz.

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Esse positivismo inerente foi uma super defesa para que eu pudesse amadurecer a confiança que eu sentia em mim.

Na faculdade de design gráfico, aleluia, eu me encontrei: em meio a pessoas com interesses em comum, que se expressavam de diferentes maneiras, descobri o quanto as roupas que eu usava serviriam para chamar atenção de uma forma positiva. Que cores, texturas e formas eram as minhas aliadas. Que eu poderia ser conhecida como a menina colorida, que ousava e se divertia com suas roupas, mesmo sem grana para comprar.

Fui adepta do punk, cortei o cabelo curtinho, o pintei de vermelho; comecei a trabalhar e pude pagar um aparelho.

Mas foi na pós-graduação que eu percebi que o mundo já tinha externalizado os meus pensamentos e que meu processo de autoconhecimento e ousadia na faculdade tinham se somado à minha voz interior. A diretora do curso passou um exercício em que deveríamos escrever nossas primeiras impressões sobre 3 colegas de turma. Não precisava se identificar e nós receberíamos os papéis para lermos o que escreveram sobre a gente.

Gelei. Que tipos de ofensas eu receberia anonimamente? Fiquei consternada com o exercício, mas fui em frente.

Tomei fôlego e li.

“Estilosa. Da moda. Sorridente. Alegre. Estilosa.”

Elogios. Impressões bacanas. Nunca vou esquecer a sensação daquele dia. De vitória, a comprovação que eu sempre estive certa. Que aquele era apenas o começo da construção na prática da minha auto imagem.

Não que eu precisasse apenas daquelas frases para me garantir, mas foi um marco atestar que não somos imutáveis. Que passamos por processos e mesmo não estando na nossa melhor forma hoje, amanhã a gente vai em busca de importantes conquistas.

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A cada dia eu vou colocando mais um tijolo nessa estrada. A cada ano, me sinto mais bonita, mais feliz com a imagem que eu transmito para o mundo, sempre de dentro pra fora. Todo dia é um exercício de autoconhecimento, de gratidão por acreditar em mim, de saber que faço o meu melhor com as ferramentas que eu tenho.

Não acreditem em tudo que falam pra vocês. Todos os dias recebemos uma série de mensagens da mídia para nos colocar pra baixo: seu cabelo não é bom o suficiente, sua pele também não, muito menos o seu corpo. Aí vendem o bb cream milagroso, o creme dadivoso, a dieta dos sonhos. E nenhuma roupa vai fazer você mais incrível que alguém.

Você é mais do que tudo isso. Roupas são ferramentas, cremes são complementos, exercícios são processos – mas quem constrói uma imagem bonita sobre si mesma, com ou sem maquiagem, nua, em frente ao espelho, somos nós mesmas.

Ter o blog não é uma autoafirmação – é acreditar fortemente que essa mensagem de positivismo e segurança na gente pode chegar em mais e mais mulheres. Que fazemos o nosso melhor com o que temos, sem essa de roupa de marca, de pagar caro para se afirmar ou coisa parecida: mesmo na nossa simplicidade, nosso mundo particular pode ser repleto de riquezas e significados, sem necessariamente serem bens materiais, armário lotado de vestidos ou ostentação. Eu ostento um sorriso, pois sou merecedora de tudo que tenho. E é essa ostentação que eu gostaria de ver em vocês. 🙂

O processo começa de dentro da gente, de forma positiva, acreditando em si e sabendo que mudanças levam tempo. Não existe verdade maior: se nós estamos aqui, é porque a gente nasceu para ser feliz. <3

PS: Um amigo acabou de compartilhar esse discurso da diva Lupita Nyong’o, atriz ganhadora do Oscar, sobre seu processo de autoafirmação, em um mundo onde as mulheres brancas é que são consideradas lindas. Emocionante, pena que não tem legenda, mas dá pra ler o discurso em inglês aqui. 🙂 aqui tem o texto traduzido!

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