{pensamento do dia} O que você está comprando na real?

Já que a proposta desse blog é fazer pensar o consumo e não sair por aí incentivando algo sem antes colocar em questão as necessidades, desejos, anseios e as possibilidades de quem quer consumir, achei interessante, mais uma vez, bater na tecla da origem do que estamos comprando.

Olho as etiquetas da C&A e Zara e só vejo países como China, Vietnã e Índia. Cada vez mais estou valorizando quem vende produtos confeccionados aqui no Brasil, e mesmo assim sendo poliana e assumindo uma perspectiva de que não sejam bolivianos ou qualquer tipo de mão de obra escravizada por aqui.

Ontem, depois de publicar as fotos do making of da coleção da Ágatha para C&A, algumas leitoras mandaram email e escreveram comentários sobre o déjà vu ao verem o vestido preto rendado. Claro que já sabemos que as coleções estão sendo feitas na China, mas numa coleção em que a gente espera ao menos um suspiro de autoralidade ou um repeteco das roupas mais clássicas das marcas, fico muito desacreditada ao me deparar com um vestido idêntico que já é vendido no Ebay e que será comercializado por dez vezes o valor e como oportunidade para quem não tem acesso às roupas de grife.

cea_ebay

Faça-me rir. Ou chorar. O da esquerda é da coleção da Ágatha para C&A e o da direita, do Ebay.

Claro que eu sei que as lojas compram as peças desses países para comercializar aqui, mas as primeiras coleções assinadas da C&A eram autorais ou eu estou/fui enganada? Marcelo Sommer, Raia de Goye, Reinaldo Lourenço; eram coleções bem espaçadas, com materiais como algodão, caimento e acabamento igualmente melhores. Já reforcei diversas vezes que não sou a favor desse frenesi, algumas vezes me criticaram dizendo que é ótimo ter muita variedade, mas qual o sentido de enjoar o consumidor e fazê-lo acreditar que está levando um produto bacana, quando, na verdade, a única coisa que foi feita foi colocar a etiqueta da coleção? Entendo a questão dos impostos nacionais, da margem de lucro, mas não concordo com a solução encontrada para transformar isso numa oportunidade apenas para a empresa.

Eu sei que muitas mulheres compram porque é barato e está dentro das suas possibilidades ou porque a cidade em que mora não apresenta tantas opções. Mas acredito também que consumo consciente independe de condição financeira: o resgate das costureiras, observar a origem das etiquetas, investir no produto nacional ou em lojas que você conheça a procedência. Isso é valorizar o seu dinheiro, é perceber que não existe um limite aceitável para tapar o sol com a peneira e entender que não precisamos de tantas coisas de origem duvidosa no nosso guarda-roupa!

Pela volta das coleções assinadas realmente interessantes, com estilistas brasileiros, com qualidade superior e etiqueta “feito no Brasil”.

Recomendo também a leitura do artigo “O preço da moda” publicado no site do O Globo, no dia 28/04/2013.

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