{pensamento do dia} Qual é a moda que a gente quer consumir?

A Marcia, leitora do blog, deixou o link dessa entrevista pra eu ler durante o carnaval (obrigada!) e achei super pertinente trazer a discussão para cá. Elizabeth Cline, autora do livro Overdressed: The Shockingly High Cost of Cheap Fashion (que já tinham me indicado em outra postagem!) mostra um olhar sobre a indústria das fast fashions e o efeito dessa moda “mais em conta” no que compramos e no que vestimos, principalmente lá fora, em que essas lojas vendem roupa a preço de banana. Acho que aqui no Brasil também temos nossas alternativas mais em conta, mas os preços não chegam a ser tão baixos, o que nos força a ponderarmos um pouco mais na hora das compras.

Muitas vezes podemos pensar “Ah! Qual é, Ana, não sou rhyca, não posso consumir moda como gostaria, então não vem cortar meu barato com o que eu posso”, mas o buraco é mais embaixo, gente. Claro que às vezes aprender mais sobre como as coisas são feitas pode fazer a gente se sentir impotente, afinal, nós não temos controle sobre o que as empresas grandes fabricam ou importam. E assim vamos vendo os shoppings cheios de roupas genéricas, cópias uma das outras, com tecidos de baixa qualidade e marcas que acreditam que o ajuste não é importante. O importante não é apenas pensar daonde vem a roupa que a gente consome, mas o que consumimos e como o fazemos.

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Elizabeth Cline

Com novidades toda semana, a autora afirma que as grandes magazines se alimentam de consumidores que desconhecem seu próprio estilo. Ditam o que é moda a cada semana e numa velocidade absurda, como se devessemos devora-las ferozmente. Para que um blazer preto se podemos ter um azul, um verde, um rosa, um vinho, um branco, um estampado…? O que eu acho sobre se expressar através das roupas, condiz muito com o que a autora do post descreveu: é conhecer a si mesmo e seu estilo pessoal e saber que tipos de silhuetas, cores ou estampas que você gosta de vestir. Sabendo disso, naturalmente, a gente deixa de comprar coisas que só usamos ​​uma vez e ficam escondidas no fundo do closet. Pelo contrário, investimos em roupas que podem durar mais tempo no nosso armário, que podemos repetir a cada estação e transformá-la em um item durável, não em algo descartável.

A autora também menciona que saber costurar é uma ótima maneira de ter controle sobre nossos guarda-roupas. Não só podemos fazer peças únicas a partir do zero, como podemos alterar, customizar e reformar nossas roupas. Ela indica o quanto essa prática se perdeu ao longo dos anos. Quando sabemos costurar ou temos uma noção sobre costura, desenvolvemos um bom olho para a qualidade em vestuário ou quanto nosso guarda-roupa pode render. Prestamos mais atenção em acabamentos, valorizamos mais um bom corte e modelagem de uma roupa. Isso é essencial para ajudar a gente a fazer uma boa compra. Lembro que uma leitora comentou que não fazia sentido levar na costureira uma roupa de loja de departamento, já que o objetivo era pagar menos por ela. Mas que roupa veste igualmente cada mulher? Ajustes quase sempre são necessários e partir de uma base pronta é uma boa saída.

Pelo que eu li na entrevista, Elizabeth fala também sobre a ligação especial que temos com a roupa que temos feitas à mão e das histórias que acompanham esse momento. Roupas feitas por nós mesmas ou nossas mães ajudam a criar uma ligação afetiva maior? Que são mais fáceis da gente querer reaproveitar para vestir e usá-las por mais tempo. Vocês concordam com esse ponto ou cada vez menos temos essa percepção sobre saber costurar ou ter uma costureira que nos auxilie a montarmos um guarda-roupa inteligente e coeso? Eu não sei vocês, mas minha mãe tem tantas lembranças da minha vó fazendo vááárias roupas para as filhas e netas. Nossa correria do dia a dia justifica perdermos o valor pelo handmade?

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Não foi feito à mão, mas esse vestido Cantão que era da minha mãe em 1977 é uma relíquia que guardo desde sempre. Memória afetiva?

Outro pensamento é considerar o que vai acontecer com a roupa quando enjoamos dela ou não serve mais. Uma das ideias é justamente valorizarmos o ato da compra e pensarmos se aquela roupa se adapta ao nosso estilo, por quanto tempo vamos usá-la, se ela combina com outras peças que eu tenho, se ela se encaixa na minha vida real, na minha rotina. Essas perguntas ajudam a repensarmos o consumo, a necessidade da compra e, principalmente, a quantidade de resíduos que estamos colocando para o meio ambiente.

Achei todos esses pontos abordados uma forma muito importante para nos ajudar a repensar sobre moda e consumo. Aqui no blog sempre defendi a ideologia de preços acessíveis, moda possível para mulheres reais, mas essas considerações são essenciais na construção de um estilo inteligente, baseado não só no que queremos passar de imagem pro mundo e para os que nos cercam, quanto na identidade que queremos construir. Comprar por comprar só pelo preço é realmente saber valorizar o dinheiro? Ou investir em peças de qualidade (que também existem em fast fashions, vamos ser justos!), produtos nacionais (e não os “falso” importados, a maioria vinda da China e com preços finais que não são compatíveis à baixa qualidade) e que são ecologicamente responsáveis?

Qual é a moda que você quer consumir?

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