Um pensamento na vitrine de Karl Lagerfeld para Riachuelo

Estava voltando de uma reunião quando dei de cara com essa vitrine da Riachuelo com uma prévia da coleção do Karl Lagerfeld, que chega às lojas (acho que algumas, não todas, mas não tenho essa informação) dia 27/04, logo após o desfile na SPFW.

Como sempre, gostaria de tecer alguns comentários sobre o que venho acompanhando ao longo desses anos de coleções especiais em fast fashions e minha participação provando e dando minhas impressões.

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Na última que resenhei, do Alexandre Herchcovitch para C&A, uma leitora comentou na postagem do facebook que pelo visto eu não devia ter gostado, já que nunca gosto de nada. Eu tomei como elogio :).

Todas impressões vêm sempre acompanhadas de comentários como esses porque pode ser difícil para algumas pessoas perceberem o por quê de algumas críticas. Não vou na loja mal humorada escrever sobre, até porque ninguém bota uma arma na minha cabeça e me obriga, haha, mas por considerar importante revermos algumas posturas nossas ao comprarmos e analisarmos se essa moda que nos apresentam e vendem como “democrática”, o é, realmente. Algumas eu aplaudo, como da Andrea Marques, Blue Man e as duas da Maria Filó, mas viraram exceção.

Recebi um email da Nathalia Barbosa recentemente, onde ela relatava, indignada, da C&A do Méier, zona norte carioca, não receber as coleções especiais por uma estratégia da marca, subestimando seu público por bairro. Segundo suas palavras: “Sei que isso ocorre, que existe obviamente uma questão de venda e de posicionamento da marca mas essa distinção absurda não faz muito sentido visto o processo de gentrificação que ocorre na cidade do Rio de Janeiro.”

Há tempos escrevendo e sendo bem repetitiva sobre péssima qualidade, modelos idênticos aos que encontramos no Aliexpress sendo vendidos 20 vezes mais caros, mesmas peças sendo encontradas em coleções normais e vendidas simultaneamente com preços diferentes – já vi um item de coleção especial sendo vendido em outra fast fashion anos depois, pasmem – o que proponho é que repensemos o que enfiam goela abaixo na gente, que todos se beneficiem percebendo os estilistas que realmente se dedicaram a apresentar algo de qualidade e acessível ao público e o que é vendido apenas como estratégia, que não acrescenta em nada nos nossos guarda-roupas, na nossa vida e no planeta que habitamos.

Observamos essa saturação vinda do excesso de coleções, algumas até simultâneas, esgotando o tom de novidade e isso reflete inclusive nos comentários – antes somávamos aqui mais 160 por post de coleção, hoje mal chegamos a 20, sendo que os acessos se mantém os mesmos, mas foi o assunto que se esgotou. Ninguém mais aguenta tanta ~novidade~ o tempo todo, sem ser exatamente a novidade que tanto esperamos.

Acreditem: é muito mais difícil manter um blog quando ele é voltado para pessoas e não pra bajular marcas.

Dito isso, vamos ao que achei me baseando apenas na vitrine:

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Não soltaram ainda muitas informações sobre essa coleção, mas sempre entendi como algo voltado para os fãs do Karl, com referências literais ao estilo do diretor criativo da Chanel. De qualquer maneira, achei que as peças expostas parecem bem executadas e bacanas, o blazer é bonito ao vivo e parece ter bom caimento.

Aí vem os poréns: essa lapela estilo smoking não é algo que o torna muito fácil pra coordenações do dia a dia e esse calor/aquecimento global nos mostra o quão equivocado pode ser comprar algo que não precisamos e que não sairá tão cedo do guarda-roupa. Para quem está de olho em um blazer, talvez seja uma boa opção, mas achei caríssimo mesmo assim – dá para vermos boas opções em outras lojas pelo mesmo valor ou menor até. O meu, da estilista Andrea Marques, foi comprado no bazar dela, 100% lã, pelo mesmo valor e a produção certamente é local e melhor valorizada, o que coloca também em questão a origem do que consumimos.

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O item mais em conta dessa vitrine era a camiseta com o rosto do Karl por 59 reais e pelo visto será um dos que vai voar das araras primeiro. A saia também parece bonita, mas custa 189 reais e o material é artificial.

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A shopping bag com estampa divertida da gatinha do estilista é bem mais bonita ao vivo, mas também achei caríssimo cobrarem 350 reais por uma bolsa que não é de couro. (ps: sei que couro é sofrimento animal, mas existem iniciativas incríveis como a marca PP Acessórios que usa o couro excedente da indústria na sua produção e a meu ver PU não é uma alternativa louvável, visto que é igualmente poluente, dura muito menos e quando descasca seu destino certamente será os aterros sanitários…) A Mari, do Modefica, mandou um link do seu site que explica minuciosamente porque a indústria do couro é mais poluente que dos sintéticos, vale ler e aprender! Obrigada, Mari!

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A tão falada padronagem pied poule com o rosto do estilista é bem interessante (gostei mesmo) e torna as bolsas mais facilmente coordenáveis que a de gatinhos, mas também desanimei com os valores entre R$319 e R$350 reais para algo sintético, o que diminui a vida útil delas. Enfim, achei bem bonita e deve voar mesmo com o preço

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Ainda não sei se será um alvoroço, mas acredito que talvez os destaques e itens mais em conta voem primeiro, com esses preços eu desconfio que o consumidor aguarde uma baixa ou no real desinteresse por essa coleção, apesar de termos itens clássicos e com pouquíssimas estampas, mas na atual conjuntura não sei se o preço alto superará o falso hype.

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