“Você não precisa de roupas novas, você precisa de um novo olhar”

Não é das tarefas mais tranquilas se propor a mudar a forma como vemos e levamos o nosso cotidiano. Para mim é muito mais fácil pensar em vender ou doar as roupas que não uso mais e comprar novas. Mesmo priorizando comprar de segunda mão – prática que por si só já evita novas demandas da indústria – existe um outro caminho que eu nunca pensei em seguir por puro comodismo. Vê se vou parar dias e dias da minha vida para cortar, costurar e transformar aquela peça?

Mas aí eu conheci a Gabi Mazepa, estilista do Re-roupa e integrante do Roupa Livre, que é das poucas (se não das únicas) que não se propõe a copiar, copiar e copiar para vender, vender e vender, mas a emprestar um novo olhar sobre o que temos, criar uma chance de uso, estimular a criatividade e provar para nós mesmos que não é tão difícil quanto parece se mexer e botar a mão na agulha e na tesoura, para evitar desperdício.

De repente eu, que me julgo ocupada por fazer tanta coisa, me senti ironicamente uma preguiçosa. E não é preguiça apenas de arregaçar as mangas e fazer, mas de botar a cabeça pra pensar além do que já estou condicionada. Arranjo sempre a falta de tempo como desculpa, mas será que é isso mesmo ou muito do pensamento já consolidado de “é mais fácil se livrar disso e comprar algo novo”? Agora, a pergunta: será que o mundo que vivemos aguenta mais alguns anos desse ciclo?

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De acordo com estimativas, a cada 5 minutos 10 mil roupas vão para aterros sanitários; 10,5 milhões de toneladas de tecidos são descartados por ano só nos Estados Unidos. Se esse número não impressiona e assusta vocês, juro que não sei o que poderia ser pior que isso. Aliás, eu sei: as bruscas mudanças climáticas, o aumento da temperatura a cada ano e todos os indícios que estamos pagando bem caro pelo descaso com o que consumimos e com o lixo que geramos.

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Não se trata de virar a chata ecológica, mas de realmente fazermos nossa parte: será que não seria muito mais legal, até pro nosso bolso, pensarmos novas maneiras de vermos as nossas roupas? Voltarmos ao tempo das nossas avós que se viravam com o que tinham e faziam suas peças, o que deixava seus guarda-roupas mais exclusivos e únicos? Por que temos necessariamente que consumir TANTO e aceitar que nos controlem assim?

A oficina que demos juntas nesse sábado no IED Rio de Janeiro mandou ver nesses questionamentos 🙂

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É preciso desapego para perceber que aquela roupa merece uma tesourada, hahaha, mas foi libertador para todo mundo pensar que aquela peça parada ganharia um novo uso, que finalmente veria a luz do dia e tudo isso com ideias próprias, sem tendencinhas, sem modismos!

E aí foi o momento catártico da galera, com o auxílio da equipe da Gabi: desconstruir para construir! Descosturar e pensar que as soluções poderiam ser apenas encaixar uma manga ou mudar completamente o propósito daquela roupa =)

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O que mais me impressionou foi ver como eu achava uma dificuldade ter que pensar sob uma nova ótica e perceber em minutos o quanto eu estava enganada: em poucas horas já tínhamos algumas peças prontas! Cortar, pegar um molde, marcar e alinhavar não é bicho-papão. Teve até quem se arriscou na máquina de costura, costurou a própria peça e saiu de lá sonhando com uma Singer pra chamar de sua!

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Algumas peças não ficaram prontas no dia ou precisariam de ajustes (o que será resolvido pela Gabi e equipe!) mas aqui já temos algumas ideias ou as mesmas prontas pra valer!

A Mariana levou uma blusa e uma saia que já tinham dado pro gasto e as duas peças renderam uma saia fofíssima pro verão! (olha como as cores casaram!)

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A Adriana em poucas horas transformou seu vestido numa saia com bolsos aplicados (e que ela vai poder usar muito mais!) e ainda rendeu a ideia de usar a parte de cima para fazer uma blusinha 🙂

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A Vanessa levou uma camisa de seda manchada – e como esse tecido não é moleza pra cortar e costurar, optaram por cortar as mangas para encurtá-las, aplicar detalhes vermelhinhos e um bolso onde tinha uma das manchas. 🙂

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A Flávia não conseguia encarar esse vestido sem uma manguinha pra cobrir os braços; a solução foi simples, porém deu outra vida à peça (ficou muito mais a cara da Flávia) e a tornou finalmente usável!

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A Fernanda ainda vai receber sua peça transformada, mas a dela foi uma das maiores mudanças: a calça saruel vai virar uma blusinha fresquinha pro calorão!

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Eu estava tão engessada que só levei uma capulana (tecido moçambicano) que ganhei de uma leitora querida e não conseguia pensar em algo com ele. Começamos uma pantalona, mas já cheguei em casa doida pra pegar várias coisas e transformar!

Como eu disse lá em cima, não é fácil ganhar essa percepção. Não é de um dia pro outro que nos propomos a encarar essa mudança e a sair do lugar comum, ainda mais cercadas de tantos atrativos das lojas e das amigas que te chamam sempre pra umas comprinhas.

Mas o que eu vi nessa oficina certamente mudou e muito a forma como olharei o que eu tenho daqui pra frente: com alguma ajuda e boa vontade, dá para, em menos de 1h, termos algo completamente novo a partir do que já temos. Ninguém perdeu o final de semana inteiro, gente! Mais do que transformar uma roupa, saímos de lá com a vontade de transformar também os nossos pensamentos.

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Obrigada, Gabi! Obrigada, galera!

Você não precisa de roupas novas, você precisa de um novo olhar – lema do Roupa Livre.

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