Aprender a abrir mão

Há um tempo atrás, se eu estivesse fazendo uma produção pra fotos numa loja, certamente daria algum jeito de comprar uma peça que eu tivesse amado muito. No caso, eu fiquei encantada por esse vestido das fotos – da maria bonita extra, marca já extinta -, com acabamento impecável (vocês não sabem, mas eu vesti ele do AVESSO pras fotos por conta do forro vermelho, não tem uma costura aparente! Roupa bem executada é mesmo aquela que podemos até vestir ao contrário, rs) e essa raridade por si só já me fascina e me faria querer o vestido imediatamente. Parcelo, dou meu jeito, bora lá garantir essa lindeza. Ops.
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Vestido maria bonita extra no O Grito
Brincos Erika Z
fotos: Denise Ricardo
produção de moda: Philippe Rudnick
locação: O Grito

Estou num momento não muito tranquilo, digamos assim – recém separada, agora tenho menos dinheiro sobrando, um tanto de projeto acontecendo e que demandam investimentos iniciais, um novo posicionamento como empreendedora, metendo as caras. Lamentei na hora não ter como levar uma peça que ficou tão bem em mim, que traz muito dessa coisa de roupa bem feita que não vemos mais por aí, mas, por incrível que pareça, cheguei em casa e fiquei tranquila. Quis sim o vestido, mas resolvi pensar pelo meu lado mais pragmático do que o sensível:

– Quando eu usaria uma roupa assim, sem ocasião alguma à vista e, vamos combinar, com o armário cheio de outras boas opções?
– Ele é tão fundamental assim no meu vestir diário ou seria mais uma peça encostada, aguardando o momento de ser usada?
– Ele serviu para esse editorial fofo, leve e com a minha cara. Não preciso ter tudo que visto para me beneficiar ou me sentir bem com minha imagem. 🙂

Esse “eu não preciso ter tudo” foi a prática que mais me libertou dos gastos desnecessários. Meu armário chega a ser um acervo de peças legais de estilistas e marcas que admiro, que uso em outras ocasiões que não o blog, que tenho há uns bons anos, portanto, ao invés de sentir a afobação e a frustração de não me vestir como gostaria sempre ou de não ter tudo que quero, sinto paz ao saber que meu estilo caminhou, a seu tempo, com muita perseverança, ao que sou hoje e como me reconheço. E que não dá pra ter tudo (bom, isso foi a maturidade que me trouxe, a duras penas, hehe).
É muito comum esse sentimento de frustração de não encontrarmos a roupa ideal nas lojas, as cores das nossas cartelas ou que sigam a mensagem que queremos comunicar, involuntariamente ou não, de não termos a grana para resolvermos logo nosso armário. E tá tudo bem. Continuamos sendo quem nós somos, nesse processo e caminho pelo autoconhecimento, que é longo e sinuoso, que tem seu tempo para a construção e para internalizá-lo, que não precisamos provar nada pra ninguém nesse momento e somos mais do que o meio que fomos criados, do que vestimos e do que dizem sobre a gente.
Eternizei em fotos esse prazer momentâneo de vestir um rodado, delicado, leve, fora um pouco do que costumo escolher, e essa leveza até nos pés descalços. Foi um trabalho muito legal com minha equipe, fazendo o que gosto, olha que privilégio. Sei que é piegas, mas vamos aceitar o cliché: são esses bons momentos que me fazem mais e mais como pessoa e mulher, não um armário lotado.
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