{Pensamento do dia} Sobre seu estilo e a aprovação do outro

Todos os dias desfilo sob o olhar alheio de uma forma pisciana, bem aérea, praticamente um cabresto da alma para me proteger dos julgamentos. Ignoro de forma solene e de soslaio quaisquer reprovações, viradas de pescoço, abaixadas de óculos, sorrisos de canto de boca, fofocas que por ventura sejam feitas ali, na minha frente.

Afinal, a opinião dos outros é mais importante do que a minha em que galáxia?

Mas já fui das pessoas mais cismadas– ainda sou, vai, mas estamos trabalhando nisso. A que precisava ler e ouvir de todos: está bom. Ficou linda. Adorei. “Está bom mesmo?” “–Está, já falei três vezes”. Alívio.

Sigo em frente no meu desfile diário da minha vida comum, com meus pensamentos igualmente ordinários: trabalho, foco, ideias, o que estou esquecendo de fazer, posts pro blog, contas pra pagar, esqueci de ligar pro fulano, perdi a hora, vou comer fora hoje. No meio de tantas coisas, paro todo esse checklist mental para aquele que quase me provoca uma paralisia, sinto até a dormência, o estômago revirando: e se a roupa que escolhi sair naquele dia não está boa o suficiente? Por que não peguei um vestido ao invés dessa saia? Nessa ânsia de resolver tudo, catei as primeiras peças pela frente e saí. Mas a cisma já deu o bote: e se não estiver bacana? E se eu for a mais mal vestida? Ou a mais em desacordo?

Cogito comprar uma roupa pra substituir aquela, não dá tempo, não tenho dinheiro, vou assim mesmo e passo o evento todo me sentindo mal em meio às outras pessoas. “– Estão sempre bem e mais uma vez eu errei na escolha”.

Chego em casa, abro os comentários do blog e eles se dividem no look mais polêmico entre “feio”, “bonito”, “não usaria mas curti em você”. Às vezes fico chocada como algo simples pra mim pareceu demais pra outra pessoa, pois é tão natural misturar ouro, prata, paetê, estampa e lenço, gente…

Precavida, penso em nunca mais usar aquela mistura que não agradou.

Final de semana. Paro no primeiro momento do dia em frente ao marido e pergunto: “– Você gosta desse look?”. Ele saca um olhar de cima a baixo, torce nariz e boca e manda um “– Ai não. Meio over.”

Fico encafifada e retruco com um “Como assim? Essas cores são harmoniosas! O que está demais aqui?”, ele já perde o interesse e diz que beleza então, sou eu quem entende afinal e volta aos seus afazeres. Mas o estrago estava feito: fico cismada com a blusa, troco e coloco uma mais neutra.

Sim, eu já fui uma pessoa que deixou de usar muita coisa por receio. Para não parecer ridícula. Para se enquadrar. Para ser aceita.

Já ouvi piadinha da roupa que eu comprei pensando em arrasar. Fiquei triste, me senti estúpida por ter gasto o dinheiro e a escondi no armário.

Já fui discriminada no trabalho por ir de saia de tule e blusa que brilha.

E sabem o que eu ganhei deixando de usar o que eu queria? Não foram likes, nem comentários a mais no blog, nem olhares emocionados ou pedidos de casamento.

serfeliz

Ganhei rugas. Rugas de preocupação extrema pelos outros que não vivem a minha vida, que não compartilham dos meus gostos, que não percebem que eu gosto de experimentar, que sou feliz sendo um pavão, que gosto sim de chamar atenção com meu vestir, que tem outros gostos, estilos e anseios, que me divirto com a moda, que não me levo à sério, que não compro tudo o que gostaria mas sou feliz com o que tenho, que tanto faz ser de marca ou não, que não estou bem naquele dia, que não tenho a minha idade, que sou assim e quem quiser gostar de mim é esse o pacote.

Gosto de pensar na minha evolução pessoal, mais do que na do meu estilo. Gosto de saber que dou bem menos importância a qualquer energia que atravanque meu caminho. Não os percebo, sinceramente. Não sou de notar o que não acrescenta. Não sou eu quem vai retrair o sorriso e perder no embate com a reprovação.

Que sejamos mais generosas sobre nós mesmas. Que tenhamos a leveza de quem voa nas experimentações e não se aprisiona numa moda que vendem diariamente como a correta, a que tem que ser. Estilo é libertação. É a vontade de transbordar a alma em paetês, laise, grafismos, saias rodadas, cores, muitas delas.

O seu próprio sorriso em frente ao espelho é inferior? Não somos completas sem o aval diário de quem não percebe nosso estado de espírito?

Não esperem a certeza do outro. Não supliquem por essa aprovação. A necessidade pelo dedão pra cima nos torna reféns da dúvida, poda a alegria de brincar, desmerece a realização de se perceber.

Hoje sou a avoada das mais felizes transitando pela cidade. Não será a desfaçatez de um olhar oblíquo e desconhecido que me fará bambolear sobre o salto e impedir de usar o que eu quiser nessa encarnação. Minha vida é só essa e eu vim para colorir.

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