Enquanto me arrumo, ele sai de chinelo.

O cara tá lá esculhambado e a mulher linda, toda arrumada. Ele de camisa de time e chinelo, enquanto ela está com vestido de seda e maquiada. Tsc.
Reclamações creditadas às mulheres, seguidas de estereótipos que reforçam o quanto nos é cobrado cuidarmos da aparência dos parceiros. Eu já fui dessas, que não me conformava e ia passar correndo a camisa amarrotada do marido (sob protestos dele) ou pedindo para, ao menos, botar uma calça no lugar da bermuda. “O que custa andar arrumado ao meu lado, poxa. A camisa dele está amassada, o que vão pensar? Que eu não me importo?” Machismo latente.

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Fotos: Renata Junot

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Quando eu conheci Igor, eu escrevi: “não meço a régua dos outros pela minha; você é um indivíduo, né?”. Não é o tipo de resposta que se espera de alguém de moda, confesso, e ele sentiu alívio. E foi assim que eu me libertei: eu sou eu, ele é ele. Parece besta isso, mas o que eu quero dizer é que ele não é um acessório do meu look. Ele se arruma mais quando quer e eu tenho meus momentos relax, em que saio de short e camiseta.
Entendo a frustração de acharmos que eles não estão nem aí para nossos “esforços”, mas repara que isso é se vestir pro outro, para aplacar expectativas alheias, se importar com opiniões que nem sempre são verdadeiras, entrar num modelo de sociedade que vende o casal como um ser único e NÃO, estamos juntos mas ele quem sabe da vida dele e eu sei da minha e respeitamos as nossas individualidades. Apenas compartilhamos nossas vidas e nos apoiamos.
Eu não tenho que me vestir pra ele ou exigir dele porque estou arrumada; se eu me vesti mais elaborada foi porque EU quis e isso não diz respeito a ele. Ele não está desdenhando de mim se preferir vestir uma camiseta e tudo pode ser conversado. Respeito, carinho e afeto não são mais latentes em looks perfeitos. Eu prefiro muito mais ver as pessoas felizes, como elas querem ser, genuinamente – salvo as devidas proporções de ocasiões, claro e tudo pode e deve ser conversado, se te chateia pra valer.
(E uma observação necessária sobre esse tópico: quando falamos de homens brancos, em relação a pessoas negras, é notório perceber que é um privilégio sair mais desarrumado sem ter a preocupação de sofrer preconceito e violência por conta do racismo estrutural da nossa sociedade. E esse assunto também rende para casais homoafetivos)
Eu sei que é polêmico o assunto, que cada um sabe de si, mas não vou adicionar à conta feminina mais essa. Projetar no outro minhas expectativas não contribui no amadurecimento mútuo e nem me exime de mais uma carga mental. E eu prefiro leveza mil vezes mais do que alguém impecável.

texto originalmente publicado no meu instagram – quem quiser clica pra acompanhar a repercussão que rendeu por lá!

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