Manifesto contra a imposição

Recentemente eu participei de um bate papo em que a pessoa dizia que jeans era algo necessário no armário de todo mundo. Na mesma hora eu retruquei que não, não era. Eu mesma não curto os visuais básicos demais, então tenho usado pouco os meus jeans.
Aliás, que coisa castradora essa ideia do tem-que-ter-peça-clássica. Somos muito mais do que esse reducionismo do que seria a base do guarda roupa convencional. Não amo t-shirt e não compraria mais calça jeans hoje em dia, assim como tem quem prefira uma jaqueta a blazer ou um top como peça curinga a uma camisa branca.
basicos-ana-soares
Lá no nosso grupo Moda pé no chão, foi a Joyce quem iniciou o assunto, e desabafou:

Ouço muito:
“Se joga”
“Ouse”
“Encontre seu estilo”
Mas…
Isso me cansa, às vezes, pois há quem prefira a discrição, o visual mais puro, simples. Para mim, nesse universo tenho poucas referências, poucas marcas.
A sensação é que se vc preferir ser discreta, básica é pq vc não se achou ou se é insegura. E se tem uma coisa que não me acho é insegura. Só não gosto de ser muito feminina, porque, de fato, não sou….

Joyce, no nosso grupo Moda Pé no Chão

“Encontre seu estilo” pode soar como algo motivacional, mas também cabe aí uma postura impositiva. Tem quem curta demais não se forçar ser algo que está na cartilha, como parecer “feminina” ou se montar toda vez que tiver que sair. E isso não tem a ver com insegurança, mas muito de não querer tomar pra si algo que, de verdade, não faz diferença.
Outro dia encontrei uma colega da época da faculdade, que se vestia muito de jeans e camiseta e nenhum acessório e, 20 anos depois, lá estava ela de jeans e camiseta e nenhum acessório. Na hora fiquei pensando se caberia vê-la de outra forma e, não, não a imaginei com outro look que não fosse aquele. Era ela, ali, inteirinha, em toda a sua interessância, só que sem precisar de muitos adornos para isso.
Entender sobre o que se gosta é também lutar contra convenções sociais e verdades absolutas em moda, que são macaqueadas à exaustão, sem um pensamento crítico, sem considerar-se o indivíduo. Todo mundo está sempre pronto para opinar, mas poucos estão dispostos a compreender escolhas baseadas no estilo de vida e nas convicções ou de contribuir para que haja uma lapidação, dentro dos desejos e necessidades de cada pessoa.
Estamos vivendo um momento muito importante em que excessos são questionados, padrões estão sendo quebrados e, mais do que nunca, queremos simplificar parte das nossas vidas. Por isso compartilho aqui algumas propostas para repensarmos o que convencionamos ser quando se fala em moda e estilo pessoal:

– Não acho que shoppings sejam espaços de passeios e inspirações para perceber seu estilo;
– Não acredito que devamos andar sempre maquiadas; hoje, enxergo muita beleza no meu rosto lavado;
– Não acho que todo mundo tem que seguir um modelo de peças básicas, mas de entender quais são os SEUS básicos (e isso vale para um top de paetês);
– Mulher não precisa passar uma mensagem de feminilidade;
– Mulheres não precisam parecer altas e magras para serem incríveis;
– Ninguém precisa lotar o armário de tendências para se sentir dona do seu estilo;
– Ninguém tem que ter nada que não se identifique só porque uma lista decretou necessário;
– Apesar de amar o potencial transformador dos acessórios, inguém precisa ter uma gaveta cheia se só curte usar uma ou outra peça;
– Ninguém precisa usar salto para se sentir elegante ou apropriada;
– Conforto, sentir-se bem em frente ao espelho e amor próprio definitivamente independem de looks ditos incríveis.

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