O HIATO DAS COLEÇÕES ESPECIAIS E A MUDANÇA DAS FAST FASHION

Estava conversando com uma pessoa sobre meu trabalho, e nessa conversa eu me liguei que tem um tempo que não rolam as impressões de coleções…porque simplesmente não vemos mais coleções especiais nas fast fashion desde o início de dezembro, quando fui cobrir a Collection 4 Mares da C&A.
Estava recordando da época que eu reclamava da velocidade assustadora de coleções especiais – lembram quando rolava duas, se bobear até três por mês? Piscávamos, opa, pintava uma coleção com alguma marca ou estilista, hahaha! Como aquilo estava me irritando, vocês lembram que eu vivia escrevendo minha indignação aqui? Hahahaha!
Irritava porque eu não concebia como uma loja mal tinha vendido parte do estoque de um lançamento e já atochava as araras com mais, remarcando em apenas duas semanas seu estoque pela metade. E mais uma coleção. E dá-lhe outra. Não dava nem tempo de respirar, e, com isso, não via nem mais correria alguma pra lojas, como era bem antigamente, vocês lembram também desse frenesi assustador? O Deus nos acuda? As filas antes das lojas abrirem? As brigas horrendas que muitas presenciávamos?
QUE ALÍVIO. QUE-A-LÍ-VI-O não ter mais isso há 5 meses!
Certamente, além da reestruturação de alguns projetos que devem estar rolando, já venho observado, mais por parte da C&A mesmo, o seu reposicionamento, principalmente ao trazer coleções com camisetas com selo sustentável, com campanhas voltadas mais para a individualização do estilo, do genderless (sem distinção de gênero), e a mudança visível de postura do consumidor: há um tempinho falamos sobre a nova forma de consumir moda, que ninguém mais está na onda de abarrotar o armário.
Além disso, o cenário econômico sofreu uma queda e muita gente apertou os cintos, aliado ao fato do consumidor estar, com isso, mais consciente das suas escolhas, com os muitos casos de trabalho escravo denunciados, aumentando as cobranças às marcas nas redes sociais, mostrando, assim, um consumidor mais atento à origem dos produtos.
Recentemente, o NY Times publicou um artigo sobre rede sueca H&M, que está com um montante de roupas encalhado nas lojas que equivalem a US$ 4,3 bilhões (cerca de R$ 14 bilhões). Acusada de queimar um estoque de 12 toneladas de roupas por ano, outros motivos da queda das vendas podem ser os processos recentes de racismo, aliado ao gerenciamento deficiente de estoque, a oferta de produtos abaixo do esperado e a preferência por compras online.
Com temas como armário cápsula em voga, a varejista holandesa foi lá e chamou a Fê Cortez, do Menos 1 Lixo, para mini episódios com convidadas desafiadas a se vestirem com um número limitado de peças.
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Muita gente veio me perguntar o que eu achava de uma fast fashion fazer campanha de minimalismo e consumo consciente. Sinceramente, acho bacana. Claro que é maior jogada de marketing, mas a C&A, pelo menos, assume posturas para reduzir o impacto das suas ações como fast fashion, além de cumprirem o contrato de não compactuarem com trabalho escravo.
Eles precisaram entrar nessa nova ordem e se adaptaram “Venha montar seu armário cápsula com a gente! Não precisa gastar muito para ter as peças básicas da sua vida.” Ainda vemos muita China nas etiquetas, que notoriamente é um país sem leis trabalhistas, então, para muitos, isso pode soar duvidoso.
Recentemente, durante a semana do Fashion Revolution, movimento mundial que cobra postura das marcas sobre seus meios de produção, o Instituto C&A entrou no Relatório do Índice de Transparência na Moda,  apoiando o Fashion Revolution na produção do relatório Fashion Transparency Index 2018, uma publicação que revisa e classifica marcas de acordo com a disponibilização de dados públicos sobre suas políticas, práticas e impactos sociais e ambientais em seus canais próprios. Leia aqui sobre o relatório.
Claro que vender coisas para armário cápsula ainda promove esse conceito de que precisamos ter sempre algo novo para acrescentar ao que já temos, o que não é uma atitude sustentável. Mas vamos pensar que essas grandes cadeias assumiram seus papeis no mundo da moda e do consumo de massa, e que propostas assim contribuem para algumas ideias serem disseminadas.
E vocês, o que acham? Acreditam nessa mudança? Sentem falta do frenesi? Qual é a opinião de vocês sobre o assunto?

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