O vestir em tempos de pandemia: o que é essencial, mais do que nunca.

Demorei para atualizar esse blog num tanto que agora estamos em meio a uma pandemia de Covid-19, em um isolamento social necessário para evitar o avanço da doença. E nunca tudo o que conversamos aqui há tantos anos fez tanto sentido, ainda mais se considerarmos que estamos forçadamente (e de forma consciente para minimizar os impactos, deixando claro), dentro de casa, sem sair, sem encontrar ninguém, sem compromissos de trabalho que não sejam reuniões online, sem eventos, sem passeios de lazer.

Recebi esse trecho de um texto que não identifiquei a fonte, mas que achei ótimo para puxar o assunto que eu queria abordar aqui

Muitas marcas já começaram a oferecer descontos e vantagens, como frete grátis. Editorias estão voltando seus conceitos para vídeos, fotos em casa, produções mais simples, sem tanto apelo de marca e de venda. Quem consome vai refletir sobre a real necessidade do que compra, vai sofrer mais os impactos de uma nova configuração de trabalho, passar por demissão, imprevisibilidade dos planejamentos, que ficarão ainda vagos, sem uma perspectiva do que voltará a funcionar. A normalidade ganhará outra forma e a adequação do varejo será necessária para sobreviver.

Mas será que o lampejo de consciência virá? Será que as pessoas entenderão que existem outras prioridades do que uma roupa nova – já que não existe mais a demanda de se arrumar todos os dias –, de ter uma coleção de sapatos que ficarão esquecidos por muito tempo, de ter um armário lotado de roupas e bolsas, que precisarão de alguma manutenção (ainda mais se vc mora numa cidade úmida), quando estar em casa significa mais conforto? Que, mais do que nunca, irão priorizar marcas que tenham compromisso social, que valorizem seu chão de fábrica, que estejam alinhadas com práticas sócio-ambientais?

E, sinceramente: alguém ainda continua usando calcinha e sutiã? (ok, conheço algumas que sim, hahaha)

Oportunismo x Oportunidade

O apelo das marcas têm mudado para não perder essa oportunidade, gerando uma falsa necessidade de consumo, vendendo looks para ficar em casa, mais confortáveis sem perder o estilo, sob o apelo de “Estar em casa não é sinônimo de desleixo”. Sinceramente, você precisa MESMO de roupa para ficar em casa? Certamente você já tem, dentro das próprias peças do dia a dia, inclusive as de trabalho e lazer, que podem ser a mesma coisa e até se dar o direito de ficar de pijama o dia inteiro, afinal, é exigir muito da gente que fiquemos bem o tempo todo com essa situação.

Comprar agora nunca pareceu tão besta. A personificação do comprar por comprar, apesar das redes sociais estarem aí para você ainda ter a opção de exibir o novo look para uma audiência. Mas as marcas precisam vender para se manter e manter seus funcionários, ok. Só que repensar o modus operandi não pode ser válido, como por ex., precisa mesmo de 12 coleções por ano?

O FFW fez uma ótima matéria sobre o assunto, abordando iniciativas de marcas que ganham pontos ao doarem recursos e adotarem medidas preventivas para não expor seus funcionários, além de campanhas para ajudar parte da sociedade que está em situação mais vulnerável. São essas marcas que certamente serão as escolhas quando existir a necessidade real de consumo (por ex., no meu caso algo relacionado a enxoval do bebê, que seja realmente indispensável), aquelas com as quais as pessoas se identificarão com as iniciativas e apoiarão.

Enquanto isso, as redes sociais estão com vários projetos de incentivo para que as pessoas aproveitem o momento e se distraiam usando o que tem no armário, reinventando seus looks, testando sem medo novas coordenações de cores e estampas, aprendendo mais sobre combinações.

Desafios para se arrumar em casa

Os perfis que destaco aqui são o da Joanna Moura, autora do Um ano sem zara, que está fazendo especiais semanais no seu instagram da quarentena com o #QuarentenasemZara, propondo desafios fáceis de reproduzir, leves e divertidos para quem a acompanha, que participa aparecendo no seu instagram.

Acompanho a Jojo há anos, e acho que nunca a vi tão colorida e criativa. Estou AMANDO essa fase!

A Stephanie Noelle é jornalista e publicitária e criou o #LindapraMim, que se propoe a ser um desafio pessoal para que ela use mais suas peças paradas no armário. Sabe aquela roupa que achamos que só rola em festa? Ela dá um jeito de usá-la pra trabalhar, de fazer circular e se sentir linda pra ela, que é o que importa.

Agora a hashtag está no desafio para se manter linda pra ela em casa, com looks incríveis e confortáveis, como top de lingerie e uma pantalona, acessórios e make. E a verdade está sempre presente, já que Noelle expoe e conversa também em seus momentos de altos e baixos, porque tá tudo bem não se sentir incrível e bem todos os dias, minha gente, e isso inclui não querer também se arrumar.

E depois?

Por aqui estou na minha, sem conseguir pensar em alternativas já com uma barriga de 9 meses, então estou focada mesmo em me preparar pro parto. Mas em breve conversaremos, à medida que o tempo avance. Estamos vivendo o improvável, não sabemos ainda como marcas pequenas sobreviverão, se teremos dinheiro inclusive pro que é essencial de verdade. Como o vestir estará inserido aí? Será que esses desafios ainda farão sentido e as pessoas terão fôlego para?

Vamos nos cuidar e aguardemos os reflexos disso tudo em nossas vidas. Um dia de cada vez, para essa nova ordem mundial, em que a moda ainda cumpre seu papel, agora mais do que nunca, que TUDO É POLÍTICO.

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