Preciso falar sobre carreira e empreendedorismo

“Ana, você é muito empreendedora!”
“Ana, conta mais que curso/livro/formação você recomenda”
Essas são as duas frases que eu mais ouço e leio, e gostaria de aproveitar não só para falar do meu trabalho nas últimas semanas, como para conversarmos sobre profissões novíssimas, ainda mais como autônoma, além de carreira e mercado de trabalho.
Há alguns anos, quando era designer gráfico, eu era uma criatura que só reclamava. Não que hoje eu não tenha meus rompantes, mas a real é que eu odiava trabalhar pros outros. Receber ordens que muitas vezes iam contra minhas crenças e anseios, me faziam uma profissional rebelde, e, por conseguinte, me sentia uma bosta por não compreender porque eu me sentia tão distante daquele modelo padrão. Era submetida a uma rotina que eu não compactuava e comecei a perceber que eu não amava mais meu ofício. Foram tempos difíceis e lamento algumas condutas minhas, que até se refletiram aqui no blog. Eu era uma pessoa infeliz no meu trabalho como designer gráfico, trabalhava anestesiada e de qualquer jeito, muitas vezes.
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O blog surgiu, há 10 anos, por meio de uma brincadeira sem pretensão alguma – tanto é verdade, que ficou parado por meses logo que começamos. Quando eu enxerguei o potencial e o ouvi eco de tantas pessoas que se identificavam com a proposta, foi que veio o estalo e vislumbrei o embrião de um negócio, de me jogar em algo que eu gostava verdadeiramente. E, não, não é apenas moda: era, e é, ajudar pessoas a serem mais felizes com suas escolhas.
Não acredito que todo mundo nasça pra empreender, mas eu asseguro que faço parte dos que gostam de ter as suas rédeas sob seu próprio comando. Não conhecia ninguém do meio, vim de um lado da cidade execrado por muitos, trabalhei anos pra pagar meus cursos e muita coisa aprendi fora dos livros e da descrita cartilha.  O caminho não é tão simples, mas acredito que podemos tomar nosso rumo sem pressão de acertar de primeira ou de já sentar na janela. Foram 10 anos pra chegar até aqui, sem me escorar em ninguém, e eu estou apenas começando, com minhas próprias pernas e um semblante mais feliz. ✨

Como tem sido o caminhar

Na última semana eu trabalhei no Veste Rio, evento de negócios em Moda do Rio de Janeiro, organizado pelo Senac, Caderno Ela/O Globo e Vogue, antigo Fashion Business, só que mais acessível ao público, com outlet de marcas conhecidas, palestras e oficinas abertas a todos e gratuitas. Dei três oficinas de 1h30 cada, com o tema Armário Cápsula, em que falei sobre consumo consciente sem caô, e levei um armário de 15 peças para mostrar a infinidade de combinações que elas rendiam.
Na quinta-feira eu participei também de um bate papo, com o tema Moda para todos/Moda vida real. Quantas vezes eu tremi numa posição dessa, achando que não teria capacidade para desenvolver um papo frente a tanto povo expert do meio – e todas as vezes eu me surpreendi com meu conhecimento além do que era discutido, minha propriedade sobre o assunto e anos e anos e anos trabalhando DE VERDADE, na linha de frente, por uma moda mais acessível, inclusiva e realista.
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Não quero ser referência se isso não significar mudar efetivamente a cabeça de muita gente no mercado, de contribuir de fato para que mais pessoas se desobriguem de achar que precisam de isso ou aquilo para serem felizes.
Às vezes penso – e eu sei disso –, que eu poderia, de repente, estar além do que estou hoje. Não ser vista algumas vezes como um tapa buraco, como ainda me sinto em alguns (cada vez menos!) poucos momentos. Eu ouço certos discursos e penso como as pessoas ainda macaqueiam o que todo mundo espera que falemos: dicas de estilo, tipo físico, tem-que-ter, básicos essenciais zzzzzzzzz. Ai, gente. Acho que chegou a hora de virarmos essa chavinha e nos apropriarmos do NOSSO DISCURSO e do que queremos de verdade para as nossas vidas e crenças, seja a sua carreira em moda, seja em quaisquer outras áreas.
Quando eu me toquei disso, recentemente, eu me tornei mais forte. Deixei de ser a que reproduzia discursos alheios para trazer meu olhar, didática e fala sobre velhos conceitos da consultoria. Briguei feio com quem veio falar na minha cara que minha profissão incentiva o consumo. Botei a cara a tapa e mandei a letra no bate papo e oficinas, sem receio, com toda a fibra do mundo.

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Palestrante no Veste Rio

Não planejei ainda um modelo de negócio, mas tenho ideias o tempo todo, dependo dos workshops e trabalhos para remunerar uma equipe de 7 pessoas. Estou me reorganizando para manter um capital de giro, terminar de desenvolver um curso de formação em consultoria de estilo, outro em cores, mais um em comunicação para consultores de estilo e um serviço de mentoria para consultorxs de estilo.

É extenuante fazer tanta coisa sozinha, até delegar é complicado. Mas eu nunca estive tão segura que eu posso crescer, caminhando com meus passos firmes, sem esmorecer. No Rio é tarefa árdua ter destaque num círculo em que os amigos se indicam, mas meu sorriso se alarga quando algum profissional que admiro, reconhece o valor do meu trabalho. Por isso é que eu não quero mais o trabalho de formiguinha: agora o negócio aqui é pé na porta!
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Manuella Antunes e Philippe Rudnik, meus assistentes!

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Mostrando pro pessoal das oficinas as muitas possibilidades com 15 peças

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Cursos, mercado e conhecimento

Um bom curso faz a diferença? Faz, mas sinceramente, não me firmo apenas por eles, não, eu busquei – e busco – meu próprio diferencial, a linguagem do meu público. Tive excelentes bases, mas meus maiores conhecimentos não vieram somente delas. Eu transformei meu trabalho, há anos atrás, em um ato político, o que me trouxe uma puta vivência e foi onde aprendi o que era EMPATIA; fiz trabalho social, me interesso por artes, música, design.
Ouço pessoas o tempo todo, e isso é um exercício fortíssimo contra a nossa armadilha do ego. Quero abraçar essa gente quase sempre. Quero contribuir. Ser a mão que traz o conforto. Ser a cabeça para emprestar as ideias. O olhar compartilhado sem miséria. Ainda pretendo estudar antropologia por conta disso, olha a dica boa, aí.
Empreender é dar conta de um leão por dia, ainda mais de alguém que se jogou numa área notoriamente classicista, sem respaldo algum, sem um background. Tudo na raça, tanto que até outro dia meu saldo bancário estava zerado, hahaha (rindo, mas é de nervoso, hahaha).
Curiosamente, não tenho medo de me jogar. Não tenho pra onde correr, então ou é isso…ou é isso. rs. Então me imbuí de ideias e arrisquei. Lancei. Montei um conteúdo porreta de bom. Usei as minhas melhores armas: a didática e o sorriso. E mantive os passos firmes, com pessoas incríveis me acompanhando.
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Eu consigo pagar minhas contas – mas atentem, nesse ínterim de Veste Rio eu ainda dei um workshop no sábado por conta própria, e outro domingo, o de cores. Às vezes não tem como fugir da ralação, mas ir à luta dá trabalho mesmo, assim como acordar, pentear os cabelos, ir ao banheiro, hahaha…TUDO dá trabalho!
Também não acho que a área tenha mercado pra todos. Acho insustentável o discurso que todo mundo vai conseguir trabalhar no meio, sendo bem sincera. A boa notícia é que temos SEMPRE a opção de voltarmos atrás, retrocedermos mesmo, e mudarmos a direção. Que dá pra, no meio dos erros, perceber o que te torna um profissional amoroso e dedicado, escolher o seu campo de atuação – que muitas vezes pode estar no seu entorno, na sua realidade e, o mais importante, alinhado e leal aos seus propósitos.
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Esse post não traz um passo a passo de como ser uma profissional bem sucedida, nem uma lista de livros, cursos e profissionais. Acho que fiz bem mais, sendo pouco modesta.
Tomara que eu tenha ajudado, de alguma forma, compartilhando minha história com vocês. Não somente incentivando guinadas profissionais – eu mudei de profissão aos 34 anos, e ainda assim foi gradual – mas de desobrigar todo mundo a ser empreendedor, ou de ter que ser famoso nas redes. Sei lá, às vezes é simples, é só mudar o foco do que se faz, buscar outras motivações, olhar mais frente do que para os lados, pra não tropeçar no próprio caminho. ❤️
Evoé, minha gente, que estamos apenas começando!

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