Roupas e ansiedade

Ansiedade. Tá todo mundo ansioso, tem um pá de gente se entorpecendo pra esquecer que é ansioso. Tem muita gente justificando um tanto de coisa por ser ansioso, tem outro tanto deixando de lado as suas coisas por culpa dela.
Falando do vestir, a ansiedade se configura nesse desejo veemente e impaciente, que nos paralisa e causa essa agitação. Os fake feelings causados pelas redes sociais (fotos perfeitas de vidas perfeitas em looks perfeitos e sorrisos mais perfeitos ainda) causa essa sensação constante que tá todo mundo bem resolvido menos a gente.
Ontem mesmo, passei o dia ausente atendendo cliente de consultoria, cheguei em casa e tive que fazer pagamentos, resolver problema de banco, tudo muito estressante, além do trânsito e calor inerentes a dezembro. E, mesmo tendo feito coisa pra chuchu, abri o twitter e o instagram e acreditei que eu não tinha feito nada, só porque não tive forças pra escrever no blog e no instagram.
A mesma coisa têm acontecido cada vez mais com o nosso vestir. Roupa antigamente era um bem, enxoval montado, herdar o vestido de alguém, até pouco tempo (uns 36 anos, vai) era minha vó quem costurava as minhas roupas, assim como ela costurava as das suas filhas. E não venha com essa de que ela tinha mais tempo livre do que eu, mulher contemporânea, porque minha vó na verdade era tão ou mais incrível, já que criava duas filhas sozinha, trabalhava de dia e cantava à noite e ainda bancou casa, colégio e mais um trem de coisas por conta própria, sem ajuda de homem.
Mas, anos depois, vovó sucumbiu a produção em massa e comprava roupa como se não houvesse amanhã. Ficava ansiosa em ir ao shopping e voltar com sacolinhas e mais sacolinhas. Não provava as roupas e, muitas vezes, repassava o que não funcionava pra ela.
Ontem mesmo, minha cliente linda e maravilhosa, cheia de roupa legal no armário, proferiu que precisava comprar roupa pra passar o final de ano na praia. Eu olhei, incrédula, o armário abarrotado de roupas – mesmo após ter tirado muita coisa de lá – e fui pegando os itens mais frescos e estampadinhos para formar um monte de combinação colorida e com cara de praia. Montei looks para um mês de viagem, muito menos tempo que ela ia passar na Bahia.
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Eu não sou melhor só porque pude observar isso, mas, através do meu ofício, eu identifico como trabalham a nossa cabeça para gerar essa sensação de que não temos o suficiente, que repetir roupa sempre é errado, que novidade que é legal, que não temos tempo de olhar para as nossas próprias coisas e experimentar, já que é muito mais “fácil” ir ao shopping e comprar uma blusinha.
Aí chegamos no shopping, rodamos, rodamos, provamos  e não cabemos, aí acreditamos que a culpa é nossa porque comemos brigadeiro no dia anterior e não porque a modelagem da roupa tá toda cagada, aí ficamos ansiosas achando que precisamos emagrecer, rodamos mais, provamos, cansadas, antes das lojas fecharem, o décimo vestido da noite, e levamos ele mesmo porque não vai dar tempo de sair e procurar de novo e você não tem mais tempo pra isso e quer resolver logo tudo. Você olha pra sacola quando chega em casa e pensa “puxa, nem gostei tanto dele assim, mas agora tenho que levá-lo”.
Vou revelar pra vocês que, em fevereiro, vou passar dez dias na europa, mais precisamente em Portugal. Estará frio, e eu comprei uma passagem promocional que só me permite uma mala de mão.
Sim, vou atravessar o oceano com uma mala de mão apenas, metade dela, aliás, ocupada por material de análise cromática. E eu não estou nervosa, nem ansiosa, porque eu já passei pela experiência de carregar uma mala de 20kg pra Praga, cheia de casaco que não usei lá. Porque não havia necessidade de desfile de moda, só de praticidade e de não morrer de frio, hahaha!
Tenho certeza que alguém pode, nesse ínterim, exclamar “MEU DEUS VOCÊ CONSEGUE COMO, EU IA SURTAR”. E, se eu estou segura de que não há nada a ser feito, não vou me deixar contagiar pela ansiedade alheia. Eu não sei se consigo, mas vou tentar, e tudo bem, eu me viro.
Dezembro é outro mês permeado pela ansiedade. Encontrar todo mundo, comprar todos os presentes, arrumar o armário que ficou bagunçado o ano todo e te confundiu, a sapateira zoneada, os looks de natal e ano novo, a mala de viagem, socorro.
Já tem um ano que desapeguei de várias coisas inerentes a esse período, como comprar presentes por comprar (hoje em dia eu presenteio quando dá vontade), me preocupar com roupa de final de ano (eu sempre passo MUITO calor e suo horrores, então vou o mais fresca possível), já que não ligo também pra máxima ficar arrumada vendo TV na sala durante a ceia, hahaha; eu gosto de arrumar a casa antes do final de ano, mas mantive tudo no lugar boa parte de 2018, para facilitar minha vida. Não consegui sempre, mas tudo bem, não dou conta de perfeição o tempo todo.
Está tudo bem, gente, mesmo. Eu repito isso pra mim diariamente. Tá tudo bem não dar conta de arrumar o armário todos os dias, só aos sábados, está tudo bem repetir roupa, não se sentir obrigada a se arrumar pra eventos natalinos.
Está tudo bem se sentir ansiosa porque tem preocupações extras, mas imaginar também que processos deveriam fazer parte das coisas, que tudo tem o seu rumo natural. Começar numa área nova demanda tempo de prospecção e experiência, erros são comuns e até necessários para aprendizado e reflexão, que ninguém consegue montar os looks mais coloridos e estampados do mundo da noite pro dia, que isso exige treino, olhar pra si mesma com mais resiliência e amor, observar as inspirações para se sentir mais animada e não deprimida; que não precisa ter roupa nova sempre, nem estar incrível o tempo todo, que é humanamente impossível acompanhar um estilo de vida que não condiz com o seu.
Quando eu me sinto muito ansiosa e entro nessa espiral louca de cobrança e comparação, eu tento observar o que provocou aquilo e o que posso fazer para melhorar. Olho pra trás e vejo o tanto que percorri, para sentir mais orgulho de mim mesma. Não é fácil, mesmo, mas tem ajudado demais agir assim.
E para você, como tem sido?

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