“Você, mãe de três, de perna de fora.”

Lembram que comentei que estava sentindo há tempos muita vontade de ampliar o debate para vários grupos, pra todo mundo se sentir abraçado pelo blog? Primeiro chegou a Mari pra falar de moda plus size, e agora eu apresento a minha amiga Julia Lugon, designer e mãe de três filhos. Julia vai escrever esporadicamente temas relacionados a maternagem! 🙂

“Você, mãe de três, de perna de fora”. Foi desse jeitinho que uma colega de trabalho se referiu a mim um dia desses. O que era uma crítica ao comprimento da minha saia, acabou virando questionamento pra vida. Sim, tenho 3 filhos e sim, saio por aí de pernas de fora. Claro que ela falou em tom de “brincadeira”, mesmo assim, a frase diz muito do lugar reservado na nossa sociedade às mulheres que se tornam mães.
E não estamos falando exatamente de roupa. Uma mãe tem que se vestir adequadamente, claro, mas deve, principalmente, se COMPORTAR adequadamente.  O que seria adequado para uma mãe? Afinal, o que é ser mãe? (sabemos que não é só parir) E por qual motivo nós mesmas ainda reproduzimos e somos influenciadas por esse “modelo” de mãe?

josephine-hvaoff
Muito antes da Angelina e da Madonna, Josephine Baker adotou 12 crianças de diferentes etnias. Olha cara dela pra você que acha que mãe não pode ser periguete!

Logo que tive meu primeiro filho, lembro de ouvir as pessoas me dizendo: toda grávida é linda. Essa frase ficou me assombrando meses porque eu não me sentia nada linda. Barrigão, rosto inchado, e uma penca de gente me dizendo que eu estava uma “gracinha” com roupinha de grávida e querendo colocar a mão na minha barriga.
“Gracinha” é um adjetivo que a gente usa para as crianças, os velhinhos e grávidas (ai de mim). Só que eu queria era me sentir gata, gostosa, bonita, de repente virei “gracinha”. Não, não! Não estava bacana isso! Ah, mas é errado dizer que mesmo grávida, eu ainda quero ser gata, ainda quero ser gostosa. Mas tá, é uma fase, pensei.
Daí depois que meu filho nasceu, lembro de ter colocado um brinquinho estilo “retrô” de camafeu, e alguém vir me dizer novamente que eu estava uma “gracinha” e com cara de mãe. Socorro! Como é a cara de mãe?
Eu acho que é tipo alguém colocar um batom vermelho e a pessoa dizer que está com cara de vadia, sabe? Acho que esse tipo de coisa tem menos a ver com o batom ou com o brinco, e mais com o estado de espírito. Tem dias estou mãe, tem dias que estou vadia, tem dias que estou discreta. Ultimamente, estou periguete. Por isso ando por aí de perna de fora sim. Porque não existe esse “ser mãe”, se eu deixar de ser todas as outras coisas que sou.
Ser mãe não é abrir mão de si mesma. Ser mãe é assumir o que gente é e mostrar pros nossos filhos, na prática, que os seres humanos são bem mais ricos e complexos do que personagens que saem em reportagem, capa de revista e até no facebook.

Julia Lugon
Julia Lugon é designer, mas não curte rótulos. É mãe de três filhos, mas tem dias que se sente adolescente. É casada, mas adora um piriguetismo.

 

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