Voltei depois de um hiato, mas cheia de assunto, vamos lá: voltei a fazer atendimentos de consultoria de estilo, tanto online quanto presenciais, e uma queixa frequente entre as clientes é a dificuldade de encontrar blusas que gostem. Mas, vejam, elas não acham que o problema é da industria, mas DELAS! Que ELAS não sabem escolher blusa, que ELAS não encontram porque não conhecem marcas ou não tem grana para investir em alguma peça melhor.
Bom, volta e meia apareço no instagram contando que tenho tal roupa há mil anos. Reparei recentemente que tenho peças de mais de dez anos atrás – sou bem apegada no geral a coisas que funcionem e estendo a vida útil delas. Por mim não trocaria nunca de notebook e celular, meu tripé comprei em Londres em 2009, rs, e uso até hoje…tá funcionando? Eu uso. Sou contra obsolescência programada por achar um desperdício de recursos e de tempo investido, fora a grana.
Sofri mas desapeguei de muita coisa desde o início da pandemia, que coincidiu com meu puerpério. Muitas foram blusas de poliéster, mas ficaram várias ainda, que não me identifico mais tanto, mas também fico muito na dúvida de desapegar, porque eu sei que encontrar coisas de qualidade maior, como era um pouco mais fácil anos atrás, tem ficado cada vez mais escasso.
Confeccionar blusas dá mais trabalho, portanto, é mais caro.
A criação de uma parte de cima é um trabalho com muito mais etapas: enquanto uma saia é basicamente medidas de cintura e quadril, por exemplo, uma blusa e camisa exigem uma modelagem que considere medidas de busto, costas, cava das axilas, medidas de ombros, gola, comprimento, punho se for camisa de manga; além de precisarem de mais etapas e detalhes, se tiver drapeado, botões, colarinho, entre outros que também oneram mais o serviço, e claro, uma grade de tamanhos reduzida. Ou seja, além de custarem mais, são mais difíceis de serem feitas, portanto, de vestirem bem, ainda mais se os serviços acima não forem bem executados.
Soma-se ao fato de termos tido desde o ano passado uma crise no setor têxtil, que provocou escassez de matéria-prima, elevou os preços e custos dos manufaturados, além de aumento da energia elétrica, combustível, entre tantas outras que fazem os empresários, que querem lucrar né, reverem os custos e optarem (ou não terem opção) por tecidos e aviamentos de baixa qualidade. Com isso, dá-lhe poliéster!
Entre pagar mais caro numa blusa ou numa saia, vamos sempre considerar comprar a parte de baixo.
Percebam também que tops, terceiras peças, blusas e camisas são peças que ficam mais próximas do rosto, por isso é comum serem peças mais fáceis de enjoarmos, mais difíceis de escolhermos. Saias e calças parecem mais atraentes e fáceis, assim, de termos mais opções, seja por serem mais fáceis de vestir melhor, seja por considerarmos que valem mais o custo x benefício.
E lembremos também da tiktokização na moda, que abrevia o tempo de uso das roupas, que traz imediatismo e aceleração, corroborando as ultra fast fashions, com suas peças descartáveis e da tendência. Chega a dar nervoso entrar nas lojas e só ter blusa cropped como opção.
Assim, a conta não fecha, porque achamos que temos um armário descoordenado, mas fica mais complicado encontrar e acrescentar o que realmente se gosta.
E qual a solução?
Vale reformar a blusa? Sim. Vale mandar fazer na costureira? Sim. Vale usar as mesmas peças de mil anos atrás, mas que continuam funcionando e você atualiza o look de outra forma, com complementos? Claro!
Também vale olhar o armário da mãe, da tia, brechós em busca de peças boas de alguns anos atrás, garimpar marcas legais, que tem esses cuidados em bazares, sites de como enjoei e repassa, pegar emprestado, mas claro que nem todo mundo tem essas alternativas. Sei que nem todo mundo pode pagar os preços de peças autorais, por mais que saibamos do valor da criação delas.
Cada vez mais as marcas tem simplificado as peças para tops, e isso tem sido incorporado nos looks, mas nem sempre é assim que a gente precisa ou tem que se vestir. Então infelizmente as alternativas são reduzidas, mas a mensagem está clara: não é você que não sabe escolher blusa, a única que não gosta de comprar camisas, a que não dá sorte.
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