A discussão sobre a SHEIN

E aí, você já comprou na Shein? Eu nunca comprei, recentemente entrei no site e me espantei com a variedade de opções, principalmente plus size e maternidade e com preços realmente excelentes. O post vai falar justamente sobre isso: eu não sou o público alvo, não me conecto mais a tendências por isso não tenho interesse em comprar, mas vi muitas coisas vantajosas para públicos específicos e quero falar como essa discussão vai além do papo de “consumo consciente”.

A gigante varejista escolheu o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro, para inaugurar a sua pop up store – parece que abriram uma também em Shangai –, em um shopping de alto luxo, o Village Mall. Isso me lembra demais quando a Forever 21, também com preços bem abaixo do mercado nacional, veio para o Brasil em 2015 e o Village foi também o primeiro destino, o que repercutiu na época já que os frequentadores se incomodaram com o público “fora do padrão” do shopping, destilando preconceito. Como esquecer das filas quilométricas que se formaram e até viraram meme? O período de loja física será bem curto: entre 19/03 a 27/03, e somente para provar as peças, que deverão ser adquiridas no app.

O que é essa Shein?

Ano passado fui bombardeada por anúncios no meu twitter sobre uma tal Shein. Não estava entendendo o que era, até encontrar os vídeos de quem mostrava as comprinhas no site, e saquei que era um desses e-commerce: pensei que seria algo tipo a febre que foi uns dez anos atrás o Aliexpress. Fui ler algumas matérias sobre a misteriosa empresa chinesa que vendia somente por e-commerce itens de moda para mais de 220 países, com mais de 4 mil itens à venda, porque eu me senti muito por fora por não ter visto alguma divulgação sobre ela antes. Seu começo remota em e-commerce de vestidos de noiva, a Sheinside.com – que eu lembro muito bem, porque uma amiga comprou seu vestido de noiva nesse site! Na época, com o dólar 1:1, era uma febre entre as noivas.

De acordo com matéria na revista Elle, o grande diferencial da varejista não é criar tendências e convencer seu público a comprar; eles rastreiam as principais tendências mundiais, as cores, formas e desejos de imagens através do Google Trends e de plataformas como Tik Tok e Instagram, e acompanham essas tendências geracionais, embarcando em diversos estilos e, o principal, desenvolvendo sob demanda, sem estoque – facilita estar sediada na China, o que ajuda na velocidade da entrega da produção. A empresa trabalha com centenas de fornecedores que, de acordo com a avaliação do público aos produtos, são retirados da plataforma se não obtiverem um resultado satisfatório, e, ao contrário do que é comum, ela não tenta impor o seu gosto aos consumidores globais, é um espelho que reflete o estilo atual de cada país para ele mesmo, em tempo real, baseado em dados, onde os pontos fortes da marca são o preço, agilidade na entrega e a variedade de tamanhos, que possuem uma grade até o 5XG. O fato de oferecer as medidas exatas de cada peça facilita muito a compra. Com todas as medidas em mãos, fica mais fácil escolher o que comprar.

Alguns dos diferenciais que contribuem para a empresa chinesa ser um sucesso:

– os reviews dos produtos; quem compra posta uma foto com a roupa ou a peça de moda e faz comentários sobre, avaliando material, caimento, tempo de entrega. Você então consegue visualizar o que está querendo em diversos corpos, e com avaliações reais sobre o produto. Achei uma sacada muito boa!

– possuir uma grade de tamanhos que contempla pessoas gordas em toda a sua variedade de corpos e estilos e por preços bem acessíveis. A variedade de tamanhos da marca vai do PP ao 5XL (cinco vezes o tamanho “G”). Para se ter uma ideia da relevância dos números maiores, na versão brasileira do site o chamado segmento “curvas + plus” tem aba própria na página inicial.

– preços acessíveis, em contrapartida aos valores que são cobrados no Brasil e que possibilitam o acesso de mais pessoas às tendências e roupas que caibam nelas.

De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), 19% de todas as vendas de varejo no planeta em 2020 foram online, em comparação com os 16% do ano anterior pré-pandêmico. Parece pouco, mas é muito. No início de 2020, a plataforma de inteligência de mercado CB Insights estimou o valor da empresa em 15,8 bilhões de dólares. Veículos de comunicação chineses levantaram que a marca, apenas entre janeiro e dezembro do ano passado, lucrou 10 bilhões de dólares. (fonte: Revista Elle)

Mas peraí, então é pra comprar em fast fashion? E o consumo consciente?

Claro que enumerei tudo que faz da Shein um expoente no mercado das fast fashion, mas isso não quer dizer que a empresa tenha um modelo de negócios transparente e nem que seja isento de impacto sócio ambiental, pelo contrário. Um modelo acelerado de produção, que não condiz com a necessidade de observarmos melhor nosso consumo, de onde compramos e quais são as condições de trabalho por trás dessa produção. Acho isso tudo péssimo, principalmente porque o que viraliza nas redes sobre a Shein é a trend de mostrar as recentes comprinhas na varejista, na velocidade que surgem as novidades, estimulando um consumo preocupante, ainda mais entre os jovens.

Gordofobia, xenofobia e classismo nas discussões.

Em contrapartida, quero pontuar outras questões levantadas que trazem uma nova ótica sobre a discussão, como é o caso de observarmos um público finalmente contemplado, as pessoas gordas e gordas maiores, que são insistentemente excluídas das grades das lojas. Quando têm, são peças de estilos limitados, que não contemplam a diversidade e pluralidade. Eu li e vi diversos vídeos e stories de influenciadores gordos falando que recebiam críticas, 99% vindas de gente magra, sobre consumirem da Shein, quando o que observamos notoriamente é que pessoas magras sempre tiveram acesso a itens de vestuário e agora podem dizer que buscam o minimalismo, porque nunca deixaram de ter opção. Então eu entendo e apoio que pessoas gordas tenham sim acesso a itens de vestuário não só para cobrir seus corpos, mas para se sentirem inseridos, pertencentes, livres para vestir o que gostam, fazerem suas escolhas, de acordo com seus estilos. Isso é dar dignidade, acessibilidade principalmente se considerarmos que estamos também falando de pessoas com baixo poder aquisitivo que se beneficiam com os valores, descontos e frete grátis.

Também podemos observar muita xenofobia nos comentários sobre produção chinesa. Recebi os relatos de seguidoras que vivem na China e o quanto as questões trabalhistas são uma verdade, porém, se reduziu a “feito na China” já ser associado a algo ruim, de péssima qualidade (ainda mais se lembrarmos todas as fake news e recentes casos relacionados a pandemia de Covid-19, de discriminação com o povo chinês), de exploração, enquanto muita coisa é feita com um ótimo padrão e seguindo os acordos sobre comprometimento com exigências trabalhistas. A C&A, por exemplo, foi a primeira fast fashion no Brasil a assinar um acordo mundial de comprometimento da luta contra trabalho escravo – tanto que nunca ouvi nada relacionado a eles –, e parte da sua produção é chinesa, enquanto nos deparamos constantemente com casos de trabalhos análogos a escravidão aqui mesmo no país, em São Paulo, no Rio de Janeiro.

Cópias, greenwashing e origem desconhecida

A Shein afirma que seus armazéns trabalham com tecnologia “green friendly” e que cada modelo de peça é reproduzido apenas entre 50 e 100 vezes até que sejam classificadas como itens best-sellers. Isso, em tese, ajudaria “a reduzir desperdícios”. Frequentemente, porém, a marca é atribuída ao “greenwashing”, que nada mais é do que uma apropriação, sem base, de valores ambientalistas. 

Ninguém sabe ao certo também quem são os nomes à frente da Shein, é tudo meio desconhecido, assim como a localização da empresa.

Além disso, as muitas acusações de plágio envolvendo designers que escancararam as cópias, vide uma das matérias que encontrei. Coisa que vimos acontecendo aqui também com as grandes varejistas, aliás. 🙁

Quem já comprou, quais foram as impressões? O que vocês acharam das questões levantadas? Acho tudo tão complexo no contexto que estamos, ao mesmo tempo que sabemos de diversas questões sobre esse modelo de negócios. 🙁

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