As roupas precisam durar?

Outro dia estava tão quente, mas tão quente que, como todo verão carioca, olhei pro closet e esbravejei que não tinha nada fresco para vestir. Já rola meio que uma má vontade aí por conta do suadouro, rs, então eu sempre vou nas peças que me sinto segura, aquelas que uso há anos e sei que funcionam nesses momentos de pavio curto.

Escolhi uma blusa que eu adoro as cores e, apesar de ter mangas, é bem fresca, de um tecido muito leve e gostoso no corpo, toda em algodão. Sempre uso com bermuda branca e não tenho problema em repetir essa informação até não poder mais. Foi quando parei em frente ao espelho e me toquei há quanto tempo a tenho: nove anos! Comprada em um bazar em 2013 por 50 reais (achei caro na época, rs), mantida até hoje pelo conforto, por ser folgadinha, uma delícia mesmo.

A mesma blusa em dois momentos e duas Anas diferentes. 🙂

Comecei a reparar na quantidade de peças que tenho há quase uma década, e são elas que tomam boa parte dos meus cabides. Claro que muitas deixaram de servir e se foram ou estão guardadas sabe-se lá por que (talvez esperança de Nina usar? hahaha), mas as que tem como esticar ou são mais folgadinhas, permanecem. Eu tenho muito a sensação que não se fazem mais roupas como antigamente e agora eu tenho a certeza que virei a minha avó, hahaha! Mas de qualquer maneira muitas tem também muita sorte por terem sobrevivido, pois nem todo tecido aguenta o tranco do tempo, das lavagens, da falta de uso constante, do desgaste do dia a dia.

Em contrapartida perdi peças que eu achava maior investimento – duas blusas da Flavia Aranha, uma estilista eco, sendo uma de malha de linho e outra de organza de seda – compradas numa liquidação, mas ainda carinhas, que se desfizeram nessa retomada da vida. Não por baixa qualidade, pelo contrário, mas por não terem aguentado, com suas delicadezas têxteis, o corre da vida materna. Cumpriram seu papel em seis anos comigo.

Roupa boa que dura pode ser uma soma de fatores como: ótimo design, excelente qualidade de tecidos e acabamentos, cuidados na manutenção, pouca lavagem, ambiente livre de umidade. E isso não significa exatamente gastar muito com elas, nem ser algo de marca. ome aí sorte, tempo disponível e dinheiro para cuidar ou ter quem cuide, facilidade de ter numeração disponível nas lojas, um mercado que investe em roupas para mulheres magras (coisa que o mercado plus size rala pra conseguir, pq em sua maioria são pequenos empreendedores que não conseguem bancar tecidos melhores, por serem mais caros), não ter coxas grossas que fiquem roçando uma na outra, não ter um bebê pendurado o tempo todo na teta.

Obsolescência aqui, não!

Vejam, eu amo coisas de época, peças vintage, brechós e antiquários, guardo as louças da minha avó como relíquias e eu sou contra a obsolescência programada: meus computadores tem uma década de uso comigo, kkkkk, é sério! Fico triste quando descubro que ainda funcionam mas não tem como atualizar mais nada, acho um absurdo essa coisa de lançamento o tempo todo.

Mas também questiono muito esse discurso do durável, porque já vi marca grande ser desonesta e justificar que é culpa de quem lava o tempo todo as peças elas se desfazerem, e não a qualidade safada dos tecidos e acabamentos. O durável é atravessado por hierarquias e construções sociais: em famílias pobres, as roupas são muito bem cuidadas porque passam para outros familiares, que as herdam, e são sobrevivência de quem precisa estar alinhado pq tem medo de ser perseguido e morto por causa da cor da pele. Mas claro que ter peças duráveis também é mais sustentável, uma forma de não gerar mais demanda da indústria, nem mandar roupas para lixões como virou o Deserto do Atacama, vocês viram, que horror? 🙁

Lembro das consultoras ricas falando das roupas que duram. A gente enjoa e tudo bem, a gente quer mudar radicalmente pra tirar um ranço de uma vida com episódios de tristeza e dor, a gente aumenta de tamanho, tanta coisa pode mudar. É bom demais ter algo há tanto tempo, porque é economia de tempo e dinheiro, é ótimo se reconhecer no que se tem e não precisar buscar por aí, se frustrar, é a segurança de saber que aquela roupa cai bem em você, dá conta da sua rotina, é a solução para os momentos sem criatividade ou a escolha que você sabe que é certeira.

Que durem o que tiver que durar e que a gente possa sempre ter nossos momentos de segurança, novidade e alegria. Vou fazer render até onde puder.

Compartilhe nas redes sociais
pinterest: pinterest
tumblr:
google plus: