Como desapeguei do blazer

Quem me acompanha há muitos anos sabe que eu era apaixonada por blazers. Quando decidi ter um estilo mais elegante, foi essa peça de roupa que me deixava arrumada até de chinelo, hahaha!

Mas é sério, eu tinha muitos para uma carioca (!) que trabalhava de casa (!!): pretos, amarelo, bronze, estampado, branco, cinza, que usava com jeans, com vestido, com maiô (juro), com short, com macacão…era meu curingão, minha cartada, minha bola de segurança. Muito pelo tom formal, pela alfaiataria que trazia uma estrutura que eu gostava à minha silhueta (eu era cismada com meus ombros pequenos), mas fato é que eu me tornei adepta dele para tudo. Só que o blazer virou minha muleta.

Constantemente eu vivia perdida nas escolhas do meu guarda roupa, e sacava o blazer para me ajudar. Não sabia o que vestir, ia de blazer com alguma coisa. Mesmo com calor, não importava, o blazer me deixava arrumada apesar de estar suando bicas.

E assim eu me viciei nessa fórmula do vestir, que tirou o potencial de muita coisa que eu já tinha.

Hoje eu sei que pelo fato de ser uma referência do masculino, me trazia a sensação de experimentar o poder e a força simbólicas que ele carregava. Só que eu sou mulher, temos estilos e gostos diversos, e eu posso passar a mesma mensagem com meus vestidos e camisetas. Vestir-se de si mesma não deveria ser um fator a desqualificar alguém.

Fora que não são itens fáceis de encontrar em tamanhos maiores, que vistam bem, de materiais de qualidade que tragam conforto térmico, além de serem mais caros.

Claro que muitas vão argumentar que é item obrigatório do código de vestir profissional de muitas empresas, que tem “gente sem noção que veste coisas horríveis” (alô misoginia!), que é o símbolo das advogadas, mas sinto informar que a desigualdade de gênero prevalece com ou sem ele. Com blazer podemos até ser mais respeitadas, mas, sendo mulheres, isso nos coloca SEMPRE em desvantagem, mesmo se usar uma peça de grife.

Não precisamos nos vestir como homens, precisamos é de políticas públicas femininas, equiparação salarial, fim do patriarcado e do capitalismo.

Continuo gostando de blazer? Sim, e mantenho meus preferidos. Mas não me sinto mais poderosa só se usá-los, pelo contrário: tenho me sentido assim com regata e saia colorida – além de compreender que eu moro em uma cidade quente e, definitivamente, é o tipo de peça que não combina com o clima.

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