Da rigidez à leveza

Minhas roupas refletiam a rigidez que eu tinha comigo. Eram em sua maioria peças de cores escuras, amplas e estruturadas, quase como armaduras que me protegiam de uma vida ressentida em que eu precisei endurecer. Com a profissão, veio a mensagem intrínseca da determinação, de quem fazia e acontecia por conta própria com muito trabalho e pouco lazer.

Evidentemente nada disso foi racionalizado na época, mas tem sido evidente à medida que eu sinto na prática a delícia de vestir uma saia colorida, que ganhou meu coração por permitir que eu me movimente com minha filha. Antes as roupas tinham o peso de servirem só para eventos, palestras e trabalhos com minha imagem – que deveria ser de uma profissional impactante. Agora eu confesso que só de olhar minhas roupas pretas eu sinto verdadeira aversão.

Esse look simples, porém leve e florido, de um passeio pelo quarteirão às 7h da manhã me revelou tanto sobre essa imagem que eu carregava de forma tão extenuante. Eu vivia cansada e me montar era mais uma parte daquela rotina que eu me enfiava.

Me sinto às vezes em uma nova gestação, mas dessa vez de mim mesma. O processo de não se reconhecer nas roupas de antes é legítimo e revelador. Tenho feito de cada dia o nascimento dessa mulher que experimenta a leveza consigo mesma através do olhar e da companhia amorosa da filha. 

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