Está tudo caro. Mas o que podemos fazer?

Outro dia postei um look com uma pantalona que eu desejei muito, comprei num outlet e já usei várias vezes desde então. Numa dessas postagens, uma leitora desabafou:

“Acho que está tudo tão caro, até na liquidação! Impossível desejar algo com esses valores, qualquer blusinha básica custa 90 reais com a justificativa de qualidade. Minha renda não acompanha isso, não.”

A sua indignação (e a nossa) reflete a discrepância da nova forma de pensarmos e querermos consumir moda com o que encontramos nas lojas e o crescente aumento dos preços. Os impostos aumentaram para as empresas, aluguéis subiram, a importação de produtos made in China também sofre significativo reajuste e isso tudo veio como uma avalanche pra cima do consumidor final – que também está sofrendo com aluguéis, instabilidade e aumento de todos os setores. Com isso, ele não aceita mais qualquer discurso.

Mas não quero focar na origem do problema: o meu quebra-cabeças nesse momento é com a solução. Entendo ambos os lados, marcas e consumidoras, e vários movimentos vêm ganhado força para nenhum dos dois saírem perdendo.

Há alguns anos eu postei sobre a banalização dos 100 reais, o que rendeu uma discussão boa sobre a crescente desvalorização da nossa grana. E, pobre coitado, 100 reais atualmente não são suficientes nem para comprar um vestidinho na C&A. Então, o que fazer? Vamos andar peladas? Restará apenas fungarmos em frente às vitrines, aguardando uma possível liquidação?

A forma como eu comecei a lidar com esse aumento cada vez mais significativo dos preços foi, antes de tudo, não achar que é o fim do mundo. Não, não é. Eu tenho roupa suficiente para toda a minha vida, você certamente também têm. Ninguém vai andar pelado por aí, olha já o privilégio que temos.

Obviamente essa afirmativa é muito simplista e não traz conforto para quem busca uma resposta de como driblar os preços altos. Eu gosto de novidades, você também. A questão, é: com que velocidade nós temos que acompanhar tanta coisa chegando o tempo todo e sendo postada diariamente nas redes sociais?

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Provando a última coleção especial da C&A: ninguém dá conta de tanta novidade o tempo todo.

Essa rapidez e sentido de urgência desgasta, consome tempo e recursos, gera ansiedade e arrependimento ou frustração, aumenta o acúmulo e nos deixa confusas.

Bom, a primeira coisa que comecei a fazer foi conhecer mais marcas feitas no Brasil: neo marcas, incubadoras de talentos como a Complexcidade, estilistas renomados, feiras locais. Sim, inclusive marcas caríssimas, dessas que vendem roupas na casa dos milhares de reais.

“Ana, você tá surtada? A solução é conhecer marca cara?”

Calma, senta aí, escuta a defesa, hahaha! Mas, sim, conhecer marcas de estilistas que admiro ou que eu considero incríveis, mesmo que estejam a anos-luz da realidade do meu bolso, é uma boa ideia. O por quê é bem simples: eu quero pegar referências lá de cima. Do que é feito de melhor por aqui, de um pessoal que pesquisa e faz uso da melhor forma dos recursos naturais, que se inspira no que temos de mais genuíno, que empreende num país com uma série de obstáculos para isso, que apresenta excelência em caimento, tecido e modelagem.

Eu quero me inspirar, alimentar as ideias para poder alimentar melhor o guarda-roupa. Eu quero ser a protagonista, e não a refém de um sistema.

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{Participar da visita guiada pelo ateliê da estilista Fernanda Yamamoto ressignificou minha forma de ver as roupas numa arara. Ouvir cada pessoa que participou costurando, modelando e desenhando estampas como coautores do trabalho da estilista foi tão incrível, que eu recomendo a todo mundo conhecer mais os ateliês. A Fernanda sempre oferece visitas guiadas, fiquem espertos para ver quando terá a próxima!}

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Mas vejam bem: marca mais cara não significa ir na loja da grife italiana do shopping de luxo e nem na loja “conhecida” que um vestido custa 500 reais e isso é caro, então tem qualidade. Não. Tem muita marca cobrando o valor agregado do lifestyle que ela vende, em peças com costuras frouxas, acabamento em overlock, tecidos que não duram uma lavagem.

A diferença delas, para as que eu citei, se baseia não na grife, mas na execução. Como são feitas as costuras? Como é essa peça por dentro, o acabamento de cada detalhe? Como a estampa é feita? O tecido é precioso?

Conhecer marcas que fazem um trabalho valioso, em todos os âmbitos, trouxe uma nova perspectiva pra mim. Eu sei que renderia muitas frustrações, já que não tenho essa grana, mas aí que eu quero chegar: quando conhecemos o significado real da palavra qualidade, criamos um importante parâmetro para adequar isso à nossa realidade. Para buscar essas referências no NOSSO universo.

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Conhecendo a fábrica da GIG, em Belo Horizonte.

Saber disso freia meu consumismo e me torna uma consumidora mais atenta, com minúcias – olha aí a Ana ~chata~ das resenhas de coleções especiais. E eu não deixo de comprar o que eu quero: eu só compro agora o que realmente significa pra mim ou o que vai acrescentar ao meu armário.

Dessa maneira eu sei identificar o que de melhor tem inclusive numa fast fashion, por exemplo. O que não vale o preço cobrado, o que posso esperar liquidar porque não existe só aquilo no mundo. Aprendo a procurar o que de melhor aquela loja pode me oferecer, dentro do que posso pagar e do quanto quero usar. Percebo o que significa ter um bom caimento, a criar padrões para não me levar pelo impulso. E, sim, isso ainda é possível!

Internalizei o pensamento de, ao invés de comprar toda semana peças que eu desconheço a origem, posso aguardar para comprar de uma marca de alguém que admiro e que desenvolve suas próprias estampas.

Quem tem receio ou vergonha de entrar numa loja apenas para olhar, provar e sair sem comprar nada, pensa: estamos experenciando a marca. É comum conhecermos, testarmos os tamanhos, avaliarmos os tecidos e depois voltarmos quando considerarmos que vale. Feiras como O cluster e eventos de moda OFF como o Circuito Moda Carioca, permitem que você troque ideia com quem está criando e gera mais identificação, pois são, muitas vezes, pessoas que querem uma moda mais original, representativa e inclusiva.

Conhecer marcas incríveis me dá também a noção da busca em brechós e em virtuais, como o enjoei. Aí já é um processo de paciência e persistência, mas nem tudo precisa ser simples. Sei que a calça da marca tal é maravilhosa, faço essa busca diariamente na lupinha do enjoei. Avalio o estado da peça, dou meu lance.

Em brechós, o mesmo esquema: vou atrás de qualidade, exclusividade com o vintage, tecidos melhores, acabamentos bem executados. Ou não entulhar o armário, sendo adepto do aluguel de roupas como na ótima iniciativa da House of Bubbles.

Conhecendo as lojas, ficamos muitas vezes sabendo também das suas lojas de fábrica e dos seus bazares. Fiz vários posts sobre minha ida nessas fábricas, compartilhei como foi ir ao bazar da Totem, onde descolei peças por 50 reais, cada. Ou quando comprei um casacão da Fernanda Yamamoto a preço de jaquetinha da Renner.

Vocês devem ter percebido que o que eu proponho como solução passa pelo conhecimento e pesquisa. Num futuro bem próximo, vamos cada vez mais querer conhecer quem está por trás do que vestimos. Já não aceitamos mais as marcas que não querem produzir roupas do nosso tamanho. Vamos ouvir menos “tem que ter” e mais “use o que você tem”.

A resposta pode ser não querer comprar tanto fast, não aceitar o que nos é imposto – mesmo quem não tem tempo pra isso, pode e deve separar uma manhã de um sábado e se propor a conhecer uma loja do bairro ou um ateliê. Vamos cada vez mais voltar para o que é local, aprender que a costureira do bairro pode te entregar algo mais em conta e feito para você. Voltaremos nossos esforços para os eventos de trocas entre amigas, pegar emprestado o que está parado do guarda-roupa da mãe.

Vai partir da gente quando, o que, e como vamos consumir, não do mercado de moda. Essa será a nossa maior resposta.

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