{pensamento do dia} Sobre a real importância das coisas

Não sei se me farei entender, mas adianto que são pensamentos soltos que fui juntando com base em um acontecimento e achei que poderia render uma discussão bacana sobre o real valor do que queremos ter. E até onde ter pode ser maior que ser.

Fui acompanhar uma pessoa viciada em bolsas monogramadas até uma loja da marca. Ela queria ver as novidades e comprar mais uma para a sua coleção. Eu, que nunca nem havia olhado para vitrine dessa loja, me vi de repente lá dentro, sorriso amarelo, tensa em responder educadamente quando indagada sobre cada bolsa “Linda essa, não?” E eu sorrindo placidamente…

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Assim, me perdoem, mas é questão de gosto: eu não curto essas bolsas. E nem é porque passaram a considerar monogramas bregas, ostentação de logotipos uma coisa também brega ou coisas do gênero, mas porque eu nunca achei que tivessem a ver com meu estilo. Gosto de itens mais irreverentes, com outro modelo, outra proposta. E essas bolsas, definitivamente, não fazem nem nunca farão a minha cabeça.

Certamente isso é questão de gosto e preferências, e eu jamais cometeria a indelicadeza de falar na cara dela “Ah, isso eu não gosto!”. Que coisa mais chata estragar o prazer de alguém, né? Ela sabia que eu não era fã da marca, mas fiz a gentileza de acompanhá-la e até opinei sobre qual seria mais interessante ela levar. Tentei ser impessoal e pensar no gosto de quem comprava, no estilo dela e nas suas preferências.

Uma vez já me disseram no trabalho que eu deveria comprar uma carteira de grife. Perguntei o por quê, e a resposta me deixou meio grilada…

“Para as pessoas verem que você está bem, para se nivelar com seus clientes, isso ajuda a impor”.

Não vou negar o fato que as pessoas se vestem historicamente para se inserirem em determinados grupos sociais, para chamar atenção, para passar uma série de mensagens a outras pessoas. Óbvio que estar vestida de acordo nos destaca em certas situações, respalda nossas ideias, mas isso não é o pilar da minha vida.

Então eu preciso gastar 600 reais em uma carteira para mostrar que estou bem na vida? Que sou respeitável? Que estou de acordo com as expectativas dos meus clientes?

Fiquei sem acreditar que isso e somente isso poderia me respaldar em diversos aspectos da minha vida. Claro que não sou ingênua e só pelo fato de remar um pouco contra a maré diariamente com este blog, que não tem intuito de ostentar marcas, ideias engessadas, coisas caras como banais, etiquetas como necessidade principal e muito menos o consumo desenfreado, já mostra um pouco que não é definitivamente esse tipo de pensamento que norteia os meus valores. Apresento as ideias, as marcas, os preços e cabe a cada uma que me lê atestar se lhe cabe ou não. Se lhe interessa ou não. E pronto! Mostrar as possibilidades é uma coisa, afirmá-las como necessidades básicas é outra.

Claro que cada uma de nós tem seu desejo secreto, aquele item que, se tivéssemos dinheiro, compraríamos no ato. Nem falo por despeito de não ter grana pra comprar uma bolsa que custa o mesmo que o meu aluguel, mas para pararmos e pensarmos até onde ostentação precisa ser maior que auto-estima. A Oficina de estilo, de quem sou fã assumida, mudou recentemente seu “slogan” para “Substitua consumo por auto-estima”. É bem por aí o que quero dizer com esse texto: a roupa não tem que me vestir, eu que visto a roupa, não tenho que ser refém dela em hipótese alguma!

Logicamente defendo termos uma ou outra peça de qualidade no armário como bases sólidas de consumo inteligente e duradouro para nossas produções. Assumo que já paguei mais caro do que o normal por um item de um estilista que admiro, com quem me identifico nas ideias, nas propostas e tantas outras coisas. Foi por admiração e identificação que eu quis vestir Ronaldo Fraga, comunicar ao mundo que estou de acordo com seus pensamentos e não que paguei quase 500 reais numa roupa.

Assim como a pessoa da bolsa de grife. Fiquei matutanto até onde realmente poderia ser amor pelo item ou ostentação. Caberia a mim julgar o que a faz feliz? A sua comunicação visual com o mundo? É difícil apontar o dedo e julgar por julgar – quem disse que eu não o seria pelo meu vestido do estilista, caso eu revelasse sua etiqueta? Quem disse que eu não seria a fútil também?

Que tipo de armadura as pessoas querem usar para se proteger do mundo ou para disfarçar os seus defeitos, eu não sei. Mas sei que, cada vez mais, quero tentar ser livre de escudos e mostrar que a Ana chega junto com a roupa que veste, que nada mais é que um complemento das suas ideias, do que ela acredita. E que o destaque sou eu, as minhas crenças e meus valores morais.

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