{possíveis gatilhos de violência psicológica}
A gente bate na tecla de se perceber, de compreender o que cabe na sua vida para entender seu estilo, de se olhar com um olhar mais generoso, de provar suas roupas sem medo, de entender o processo natural das coisas, MAS, nesse contexto de estilo pessoal, é importante demais observar sobre o que nos rodeia. Quem está ao seu lado, te apoia ou te critica? A opinião sobrepoe a sua?

Mulheres são bombardeadas pela mídia diariamente, se aproveitando das inseguranças criadas a partir de padrões estabelecidos, para lucrar com venda de produtos e serviços. Durante anos fomos ensinadas a odiarmos nossos corpos, a observarmos nossas mães odiando os corpos delas, a prestarmos atenção para não engordarmos, nem sermos rebeldes demais, que isso tudo mediria o quanto de afeto teríamos na vida. Obedientes, subservientes, castradas – condicionadas a agradar para termos validação, para sermos merecedoras de amor.
Na minha casa cresci com meus pais desmerecendo até coisas mínimas, mas que me deixavam insegura. Sou uma mulher forte, que bato de frente com muita coisa, mas essas palavras deixaram marcas. Durante muito tempo me vesti aqui para agradar minha audiência – claro que a gente usa estratégias de conteúdo, mas eu tinha medo também de desagradar, de ser zoada, lá no fundinho, sabem? Queria ser aceita. Por isso muitas vezes mulheres da minha geração se deitaram sem pestanejar para os padrões, mesmo sentindo incômodo, com a sensação latente de não-pertencimento.
Falemos, mais do que tudo, de maridos/namorados que encrencam com saia curta, que proíbem a companheira de vestir o que quiser, que insinuam que ela fica melhor sem maquiagem e de esmalte nude, que não permitem que ela use salto e fique maior que ele. Muitas, infelizmente, ainda que não sofram fisicamente essa violência, não percebem o terror psicológico de não poderem fazer suas escolhas para não desagradar. Fora os que as presenteiam com roupas sensuais insinuando que elas deveriam se vestir de tal maneira para que sejam merecedoras do desejo deles.
Vivi tanto isso nos atendimentos de consultoria. Um dos mais marcantes foi o do marido, com o pé quebrado, dizer que não queria sair da cama do quarto (que eu precisava para colocar os looks da cliente) para me dar espaço para trabalhar. Fiquei atendendo com aquela criatura fazendo pouco caso de tudo e da esposa, se intrometendo nas escolhas e dando opiniões não solicitadas.
Amigas que não são amigas
Eu entendi, anos depois, nas minhas sessões de terapia, o quanto não enxergava que buscava sem perceber a repetição desses padrões também nas amizades. Era o que eu conhecia, afinal. Aceitava ser menosprezada pela amiga que estranhamente desdenhava de tudo que eu falava. Da outra que se achava superior por ter lido mais. De ter sentimentos e desejos invalidados, porque elas sabiam mais de mim do que eu mesma, e o que era melhor pra mim, vejam só.
Era muito comum uma delas dar sempre uma zoada em alguma roupa ou acessório meu “Você ganhou isso, né? Me diz que você não gastou com essa coisa horrorosa”, eu sorria amarelo e muitas vezes acreditava. Ou aquela que comentava nas fotos do meu look “Lindo, mas faltou uma bainha”. No que esse comentário crítico, disfarçado de dica amiga, me ajudaria nesse momento? Nada, hahaha, só me fazer sentir mal por não ter postado um look perfeito.
Tem quem tenha amigas que apontam o dedo quando você sai do provador da loja, que riem da sua roupa, que dizem que você não tem mais idade nem corpo para vestir certas coisas, que acreditam em competição feminina dizendo que se vestem para causar inveja. Não alimento competição feminina e não acredito que isso exista espontaneamente: é mais um fruto de um sistema que ganha com mulheres disuputando e não se unindo. Prefiro conversar hoje em dia e expor meu desagrado para que talvez ela observe isso também em seu comportamento.
Isso é sério quando observamos que muitas mulheres escolhem, sem perceber, encolherem e anularem seus desejos no vestir para não se destacarem, para que as roupas não sejam medidores do seu intelecto. Não conseguem aceitar suas cores, não conseguem avançar nas etapas de consultoria. Quando eu dava o workshop de cores, ouvi muitas repetirem que estavam ali porque precisavam se vestir como adultas para não ouvirem críticas à aparência no trabalho, que queriam ser mais sexies pro marido.
O que a consultora de estilo pode fazer nessas situações? Eu te digo: nada que não seja acolher e abraçar essa mulher. Esvaziar palavras autoestima e autoconhecimento como reforço do seu trabalho não constribuem em nada. Não somos psicólogas, mesmo que seja a sua formação, não é nosso papel ali. Mesmo que você diga um monte de frase de efeito no sentido de ajudar, jamais saberá as dores daquela pessoa.
O nosso trabalho sim pode ser uma fagulha em direção a esse processo, mas que é inteiramente individual.
Todo mundo deveria ter direito a terapia, todo mundo deveria ter consciência da importância, mesmo achando que não precisa. Saber seu estilo é um dos passos, e entendemos melhor sobre ele – que é entender sobre si mesma – quando caminhamos para nosso conhecimento pessoal, quando analisamos o que nos dói, quando vamos trabalhando a cura ou a cicatrização dessas dores, para nos olharmos em frente ao espelho nas nossas cores, roupas e acessórios refletindo, sem medo do olhar alheio, o tantão de maravilhosidade que somos.
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