Nunca estive tão bonita.

Eu sei que esse título está narcisista, mas é uma verdade que não tem como esconder, ainda mais para quem sofreu com bullyings sobre sua aparência, na rua e em casa, a vida toda. To gata bagarai e tendo uma rotina infinitamente mais SIMPLES!

Bom, eu sei que falar de quebra de padrões é algo ainda distante sendo mulher branca e cis mais próxima do que se entende por padrão, até porque as nossas conquistas individuais não correspondem ao que a maioria sofre de opressão dentro de um sistema machista, racista e patriarcal. Ainda estamos sob essa lente cruel, sofrendo em diversos níveis, inclusive a apropriação do sistema de causas libertárias para transformar em produto.

Mas ainda assim acho tão importante compartilhar que estou maravilhada como estou me vendo uma mulher bonita me livrando de uma série de procedimentos, coisa que nunca percebi antes.

Foi após a separação do meu primeiro marido que a transformação começou. Comecei a me ver uma mulher desejável e desejante, para mim mesma. Antes eu usava muito as roupas como escudo de um estilo para performar força, feminilidade, impacto. Eu me escondia sob as formas porque não gostava da minha própria forma. Tava sempre sorrindo nas fotos não só porque sou simpática, hahaha, mas me achava feia sem sorrir.

Adorava meu cabelo curto, mas confesso que durante muito tempo sentia algo estranho ali. Não sei, um lado do corte eu nunca gostava e tal. Uma vez estava no terreiro e recebi a mensagem que Oxum (orixá da beleza!) estava chateada porque eu estava cortando muito o cabelo, e eu falei que nãoooo, eu ficava bonita sim. A audácia! hahaha! E Oxum estava certa, CLARO!

Fora todo o esforço pra pintar o cabelo odiando passar essa química, o tempo e dinheiro perdidos no processo. Meu cabelo caía demais, vivia com uma textura pesada, poroso, sem brilho. Cheguei ao cúmulo de comprar spray gloss de brilho para o cabelo porque não me conformava. Aí cortava bem curto também porque via minhas fotos jovem, de cabelão, e me achava feia demais.

Eu era uma garota triste. Me sentia só, eu por mim mesma.

Fazer tanta força boa parte da vida, para correr atrás do meu, foi cansativo. Eu me sentia velha exausta aos 30 anos, gastei com procedimentos para melhorar o colágeno na pele, para disfarçar olheiras e não adiantava. Batia ponto na manicure toda semana porque achava meu formato de unhas feio (!!). Ia a podóloga todo mês porque os pés viviam podres, mas não atinava que poderia ser o tanto de sapato que eu usava que detonava eles, aumentava calos, espremia as unhas. Vez ou outra comparecia na depiladora, mas suando frio, tremendo, porque odiava sentir aquela dor. Depilação a laser também senti dor, abandonei logo. Não me via sem maquiagem porque precisava disarçar a pele, o cansaço, as rugas e olheiras. Ah, e compensar também um olho maior que o outro (!!!!).

Abandonei tudo isso com a pandemia. E não me vejo mais voltando a fazer nada disso.

Sei dos meus privilégios de mulher branca que trabalha em casa, mas também sei que sou mulher que sofreu com opressão do sistema por todos esses anos, sem questionar. Era assim, então vamos lá. Esbravejava, ficava mal, mas fazia porque achava que não teria solução. Era isso, ou me achar mais feia ainda. Imperfeita. Toda errada.

A reviravolta

Meus pés estão lisinhos, não tenho mais chulé, nem dores, estão até mais simpáticos, ahhaha. Não coço mais a virilha e as axilas. O cabelo está sedoso, lindo, brilhoso, um caimento espetacular mesmo sem ver uma tesoura há mais de um ano e meio. Mesmo com barriga pós-gestação, estou apaixonada pelo meu corpo, por mim. Não uso mais maquiagem, às vezes um BB Cream e um batom, ainda mais em dias de noites mal dormidas, mas não é aquela coisa obrigatória. Tenho dormido cedo com a minha neném, o que impactou positivamente na qualidade do meu sono, e ainda amamentando de madrugada, vejam vocês.

Tirei do armário todas as roupas, sapatos e acessórios que não dialogavam mais com essa minha versão, agora vou usar todas as roupas incríveis sem precisar de um evento para isso. Estou simplificando o estilo para o conforto, o bem estar, porque não preciso performar mais. Sinto um alívio enorme de me ver cada vez mais com menos, e sem a sanha de querer comprar, comprar. Estou feliz ao me ver no espelho, de cara lavada inclusive. Amo não precisar cutilar nem pintar as unhas, deixo bem cortadas e ficam tão bonitinhas.

Estou me sentindo bonita porque finalmente abandonei o que não fazia sentido, principalmente pq abandonei o medo de não estar perfeita aos olhos dos outros. Até porque eu não sou. E sou linda assim.

Compartilhe nas redes sociais
pinterest: pinterest
tumblr:
google plus: