Grávida aos 40, pari sozinha em casa aos 41. Cheguei a me arrepender de contar minha idade aqui. Fugi até agora desse rótulo de mãe ~tardia, não queria tocar mais no assunto. Fui bombardeada no instagram a gravidez inteira sobre as consequências falaciosas, acusada de estar enganando mulheres, de deixá-las acreditarem que era possível. Todos os dias vinha alguém aqui perguntar minha idade, se eu não temia alguma doença, ou sendo acusada de negacionista.
Senti dores na barriga inúmeras vezes, porque eu só queria viver minha gestação em paz. Mas hoje eu consigo perceber o poder que eu e Nina emanamos pro mundo, recebendo dezenas e dezenas de relatos de mulheres de todos os jeitos e todas faixas etárias dizendo o quanto as inspirei, as libertei, e, principalmente, mudei seus pensamentos sobre gerar e parir. Dos grilhões rompidos que nos aprisionam ainda a uma medicalização do parto, da indústria que lucra muito nos amedrontando, uma sociedade que culpabiliza a mulher que quer seguir sua jornada.
Me separei após 15 anos de casada, amizades romperam comigo, saí com muita gente e encontrei Igor no Tinder. Casei de novo aos 39, e desde sempre falávamos de ter um filho. Tivemos uma visão que era encontro de outras vidas, e eu, que nunca tinha sentido vontade real de ser mãe, só a dúvida se deveria ter ou não, fui invadida por uma convicção que inundava meus poros, fazia meu corpo tremer de desejo. A médica não pediu exame nenhum, que eu transasse pra ser feliz. Minha amiga fez barra de access em mim para quebrar crenças que me aprisionavam, eu chorei na sessão. Minha mãe recebeu recado pra eu falar com Yemanjá e assim o fiz, tomada de amor. Lamentava cada menstruação, sentia medo de não conseguir. Mas eu carregava o mundo nas costas há muito tempo, e todas as dores e inseguranças de uma vida conturbada. Decidi mudar minha relação comigo e com meu trabalho, taquei o foda-se, me entreguei a indulgência, ao gozo, e, 8 meses depois, ela veio.
Essa é a minha história. Eu achava que precisava de floreios e rimas mais ricas, mas hoje eu entendo que só de estar aqui, sendo, existindo, é uma forma de dizer a mais mulheres q elas também podem viver no seu tempo as suas próprias histórias.
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