As roupas que guardei para você

Essa semana comentei no instagram sobre peças que desapegamos e nos arrependemos. Vou confessar, eu já me arrependi sim, de ter vendido/doado algumas coisas. Sabe calor do momento? Aí olho as peças e penso, puxa, poderia ter dado outra chance…

Aí respondo em seguida (a mente da pessoa é assim haha): mas peraí, que chance? Ela teve todas as chances e eu não a escolhia! Ou, aliás, nem chance surgiu, como foi o caso de um vestido longo lindo que comprei pra ir a um casamento que nunca existiu. Ou a blusa que realmente era linda, mas nunca foi a minha opção ao escolher meus looks, por ser mais transparente e preguiça de usar algo por baixo, por ser muito romântica e por aí vai. Ora, se nunca foi uma escolha fácil, só a beleza dela não garante que vá ser usada, né.

Me desfiz da blusa da foto abaixo. Quando fiquei meio arrependida, a moça que ficou com ela mandou uma mensagem que ela ia ajudar muito em refazer seu estilo, que era uma peça importante por ter sido minha também. Fiquei feliz e esse lamento se esvaziou. Eu não usava, tinha dúvidas e alguém estava feliz e cheia de certezas com ela. Que bom, sabe?

Aí tem aquelas que estavam guardadas e eu nem lembrava. Algumas eu desenterrei e, olha, consegui usar sim. Outras eu experimentei e não serviam mais. Podem voltar a servir algum dia? Até podem, mas não quero contar com o amanhã. Quero o hoje.

Claro que isso não se aplica a todas: algumas podem ser transformadas com reformas, outras é só um ajuste aqui e ali, tem as que ficam porque pode ser alternativas boas em uma variação de manequim. Mas gente, a questão é não arrumar desculpas para tudo e depois não usar nem depois disso.

As artimanhas do apego que eu chamo: o lamento porque a moda voltou e você teve essa peça por tanto tempo, aí se desfez do nada. Ou vai que precise, ou vai que a sua filha queira quando ela tiver 15 anos, isso o que, daqui a 14 anos?

Décadas mantendo peças que nem sei se ela vai querer usar. Se vai ser o estilo dela, se vai ser do tamanho dela, se sobreviverão a algum descuido ou mofo. Ocupando espaço, atravancando.

Mas se for de qualidade, vale a pena. Ah, sim, concordo. Alguma joia também, ou algo precioso para você, de família. Mas a questão colocada aqui é quando é só mais uma desculpa para não se desfazer. Porque arrependimento deixa a gente se remoendo por dentro, é ruim se sentir assim. E porque roupa boa é caro mesmo, eu sei bem, minha realidade por muitos anos sempre foi de ter esse receio porque era tudo garimpado, não tinha acesso e poder aquisitivo a muita coisa, então eu sofro às vezes lembrando disso.

Não é fácil mesmo desapegar. É um processo.

Cada pessoa vai ter seu tempo, porque roupas estão muito atreladas a memórias, a situações de traumas e de status, ou até de necessidade de afirmação por fatores sociais. Até eu vir morar em um apto com quartos q mal cabem um armário, eu não fazia ideia da quantidade de roupa sem uso que acumulava, por achar que deveria ter um acervo pro meu trabalho.

Foi com essa pandemia horrorosa e a maternidade que eu percebi que ainda mantinha muita coisa que achava que precisava, mas não eram do meu estilo, não gostava o suficiente. Foi por não conseguir mais dar conta de realizar manutenção em tantas peças (inclusive as guardadas, tá?), de entender que meu tempo agora era restrito e eu deveria ser mais prática, que desapeguei de uma leva sem dó.

E ainda assim tenho muita coisa. Está sendo um processo, sem cobranças, nos momentos que eu avalio melhor cada peça e vejo que não funcionaram até hoje, mesmo sendo bonitas, de qualidade, etc.

Sobre guardar pra Nina, não vejo sentido fazer isso com coisas que não fazem nem sentido mais pra mim. Mesmo sendo peças boas, a criança cria memória afetiva ao ver a mãe ou pai ou familiar usando. Ver a peça sendo vestida, adornando quem é importante pra ela, presenciando momentos com ela. Ou algo gera encantamento e sua filha/filho pode pedir para guardar: foi assim com esse vestido da minha mãe, que está comigo há 30 anos e eu USO sempre!

Claro que tenho as peças que guardo de recordação, algumas da minha vó. Mas eu uso. Usei na gravidez e uso aqui no dia a dia. Eu gosto de vestir o que foi dela, mas não acredito que esse desejo seja o mesmo da minha filha. E tudo bem, sabe? Não gostaria de sofrer pressão ou chantagem para usar algo só porque alguém projetou expectativas pra cima de mim. É uma questão da pessoa, e dizer não, não é desfeita. É legítimo.

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